terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nunca se esquece um verdadeiro sol. Mesmo que se sinta que nada mais há a uni-lo. E há a falta e há a vida que salta e sai solta e sabemos que nada mais será igual. Mesmo que o cenário mude, o serão mantém-se igual, como aquela gargalhada forte que se dá sempre naquela piada repetida. Depois os cheiros confundem-se e as rotinas alteram-se, mas o intimo mantém-se alerta. Queremos sempre as mesmas respostas, queremos sempre as mesmas graçolas, queremos sempre as mesmas necessidades básicas que só aquela alma conhecia tão bem. Mesmo quando negava saciá-las. E nós desistimos de mostrar as fraquezas aos outros. Nunca as compreenderão, certo? O nosso antigo amor conhecia-nos tão bem e se ele já lá não está, porque haveria outro querer saber de nós? Porque haveria outro conhecer-nos melhor que a nossa sombra?
Podemos sempre tentar. Não é proibido que isso se faça, aliás, até se aconselha. Podemos sempre tentar ser felizes e sempre tentar amar de novo. Resta-nos rezar para que a sorte nos ilumine e transforme a nossa amargura num futuro melhor. É que sentiremos sempre falta. Mesmo que seja uma falta falsa, porque o nosso antigo amor já nos enterrou.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Dez motivos para não gostar de ti

Gosto de ti e sei dar-te dez motivos para não gostar. 
Mas depois nesses dez, subtraio  três porque foram motivos dados quando estava alcoolizada e ficaram sem credibilidade. Dos que sobram, subtraio dois, porque estava com TPM e com as hormonas alteradas; subtraio mais três, porque estava com birra de sono e de fome o que leva a uma irritação fora do normal, retiro mais um, porque estava só a ser estúpida e, finalmente, tenho um único motivo para não gostar de ti. Mas acabo por o retirar também, porque é tão insignificante longe dos outros nove...

Percebo que tenho mais motivos para te adorar do que dez motivos para duvidar disso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Natal é: Toy Story!

Vem aí o Natal! Vamos todos fechar-nos em casa, desligar as televisões e receber o Natal em família? Naaaaa. Vamos todos fechar-nos em casa para não cairmos na tentação de ver o Figueiras a cantar músicas natalícias. 
Ninguém, ninguém mesmo, por mais desesperado que esteja, consegue resistir a comprar alguma coisa nesta época do ano. Se temos dois euros  na carteira e muita fome, vamos comprar o quê? Um gorro nos indianos. E saímos contentes porque nos sobraram 0.50 cêntimos. Nem os sem abrigo resistem a este espírito consumista: em vez do habitual cartaz "ajudem com qualquer coisinha", passamos a ter "ofereçam qualquer coisinha". Falando nisto, acho que os sem-abrigo são as pessoas mais felizes no Natal porque são as únicas que não se ofendem, e até agradecem, "porque era isso mesmo que estava a precisar", se lhe oferecerem um par de meias...
Já os putos são seres completamente insaciáveis. Se oferecemos uma boneca que fala, come, faz xixi, tem hemorróidas, conduz pesados, arrota o alfabeto em 10 línguas e AINDA traz três mudas de roupa diferente, o puto diz o quê? Quer trocar de prenda porque a boneca não vem completa. E nós fazemos o quê? Trocamos a boneca por outra exatamente igual mas muito mais cara. Ah, mas assim esta já serve. É mais divertida.
O Pai Natal é aquele gajo que não inspira confiança: Trabalha uma vez por ano e ainda por cima adora crianças. Pior, pede-lhes que abram o seu grande saco, metendo a mão lá dentro... isso claro, se quiserem um presentinho. E gosta que o chamem de paizinho, o Pai Natal. Mas como é famoso,e representa uma grande marca, a coca-cola, ninguém faz nada! Ai Pai Natal, Pai Natal, só faltava pedires às crianças para se sentarem ao teu colo para eu achar isto tudo macabro... ok, já fazes isto.
Há uma única coisa que eu acho fantástica no Natal: os gorros vermelhos com pompons brancos. É tão bom andar na rua e não ter de chamar nomes a ninguém, os idiotas identificam-se sozinhos! Adoro!

Feliz Natal e muitos presentinhos - sério crianças, não adormeçam nessa noite, um olho aberto e o outro bem fechadito... 

sábado, 10 de dezembro de 2011

O amor é: dentes arrancados

O amor.
Não há tema mais batido que este. Dão lhe prioridade absoluta, como se fosse vedeta de todas as festas. Enchem-no de características, definem-no, criticam-no mesmo quando veneram o seu poder. O amor. A maior prisão da sobrevivência - aliás, o que de mais se parece com a morte: afinal ninguém está livre dele.
Dá-me dores na barriga ao falar de amor - não, não são as tais borboletas que crescem no estômago quando Ele passa (Deus me livre imaginar que tenho larvas a crescer dentro de mim), mas dores fortes, naturais,  como se alguém me desse um soco. É que porra, o amor dói. Dói como quando nos arrancam um dente - aquela dor aguda, interminável que sabemos não querer repetir. Até juramos preferir que apodreçam todos os dentes (DA FRENTE!) do que voltar a sentir a dor aguda. O amor assemelha-se a três dentes arrancados, sem anestesia e com a sensação de que o dentista não lavou as mãos. 
Mas voltamos lá. Com medo, a tremer, a hesitar. Lemos dez vezes a placa que diz "Dentista" e confirmamos a morada. Sabemos que vai doer, sabemos que aquele nem será o dentista melhor, mas voltamos lá. Afinal, ninguém vive com dentes podres. E como um dente prestes a arrancar, voltamos a cair na tolice de nos apaixonarmos. E lá está ele: a acenar com a sua pinça mágica, ou piça mágica, como quiserem, e nós caímos outra vez. Sorridentes. Prontinhos a sofrer uma dor aguda. 
Não me falem dele de forma sorridente - não se esqueçam, estamos sem dentes. Falem-me dele com bastante ódio, afinal ele arruína-nos. Faz-nos sentir especiais, únicos, mestrados. Até vestimos aquelas calças que nos ficam tão mal e desfilamos orgulhosos. É a sombra perfeita - cuspam-me na cara e limpem-me os olhos por favor.
E depois o dente sai, as calças ficam, o dentista reforma-se ou prefere arrancar dentes, à paulada, à secretária copa Best, e nós ficamos novamente agarrados à coca: Cromos que Ouviram Conselhos de Apaixonados, para lá está, se apaixonarem.
Enquanto puder fugir do dentista, fugirei. Espero que não me apanhem. Não quero esta dor aguda. Para isso já me chegam as dores menstruais, que também são vermelhas como o amor.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Independentemente do tempo

Sinto a vossa falta. As coisas não deviam desaparecer com o tempo, deviam tornar-se mais fortes e verdadeiras. 
As pessoas deviam ceder. Deviam perceber as razões dos afastamentos e ceder. Não deixar passar, incrédulos, o tempo para depois de o tempo ter passado, suspirar-se por o presente se ter extinguido, antes do tempo previsto.
As coisas não deviam ser tão feias. Devia-se ter uma caixa de madeira, como se fosse um baú, e guardar-se lá dentro as risadas, os conselhos, os abraços, as confissões e as juras de amizade eterna. Não se deveria questionar sentimentos. Somente questionar-se acções. Mas se essas acções são imperceptíveis como os sentimentos, dever-se-ia fazer cafoné,  falar-se baixinho e dizer "não faz mal, anda para aqui."
As coisas correm, na nossa tranquilidade caseira, até que num dia perfeitamente comum, banal e indiferente, algum acontecimento há-de mudar a vida de cada uma de nós. E aí, as restantes, vão querer correr para o baú, lembrar à pressa e com força todas as recordações passadas, mas já será tarde de mais. Devíamos antes, limpar o que temos lá guardado e lembrá-lo todos os dias, em vez de o deixar encher-se de poeira e esperar que as recordações morram, como o tempo ou a própria vida.
Quero-vos dizer que sinto a vossa falta. Independentemente de tudo. Não quero correr para o meu baú velho e limpar tudo à pressa, quando não der tempo. Quero olhar para um retrato antigo e sentir que é recente.
Gosto de vocês, independentemente do tempo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

MEU GRANDE BURRO

Às vezes percebo tudo o que me dizes,
às vezes acho impossível essa linguagem que utilizas.
Pareces doutros povos, pareces doutras mentes,
és tão antagónico como presente,
és tão passado como figura do futuramente.

Não sei se entendo os teus gestos, que me parecem tão subtis,
são grosseiros, são certeiros, são doentes e infantis.

Porque gosto tanto de ti, se não me entendes?
Não lês o que te digo, não ouves o que te falo –
Se te peço abrigo é porque te necessito,
Se te peço espaço, é porque em ti me abafo,
Se digo o dito pelo não dito é só para que me interrompas – para que te faças remarcar, seu idiota!
Não vês que prefiro que me mandes calar, do que me desprezes parado?
Acho que no fundo, prefiro um olhar teu a matar,
do que esse olhar apagado.

Quero que me espreites,
Quero que me deites,
Quero que me faças esquecer o que me afastou de ti. Não quero que me afastes mais. Quero que me prendas mais, mesmo que nunca me tenhas tido. Mesmo que sejas sempre tu quem sai, e mesmo que eu nunca tenho ido.

Porque não entendes a minha poesia? Terei de escrever o TEU nome para te parecer familiar?!?
Sai do teu conforto e vem para o meu lugar.

Meu burro. Meu grande burro. E havia eu de gostar de ti.

sábado, 26 de novembro de 2011

As relações são contextos

Dizem que a rotina mata as relações. Eu acho exactamente o contrário. São as rotinas que mantêm as relações. As relações são contextos. As relações são países. As relações são momentos, do momento. Acasos. Situações preferidas. Jeitos. Preferências. As relações são porque são, porque se estava ali. Porque era o timing. Porque se provocou. Muda-se a rotina e relação deixa de encaixar. "Demasiadas diferenças", dizem eles. "Rotinas desigualadas", digo eu.
As relações tornam as pessoas momentâneas. Acasos. Recicláveis. Não duradouras. As relações tornam as pessoas passagens, desconhecimento. As relações tornam tudo moldável. Assustadoramente, moldável.

As relações tornam-nos bestas. Porque dependemos delas e acabamos com elas, quando der mais vontade. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Homenagem ao meu Mau Humor

Hoje não me apetece fazer rir. Nem me apetece fazer sorrir sequer. Nem me apetece aprender, nem agradar, nem fazer cara bonita, nem parecer bem educada. Hoje não me apetece existir sequer. Não me apetece que me digam bom dia e muito menos que opinem sobre o meu humor. Hoje quero, claramente, que toda a gente vá ver se está a chover - melhor, que toda a gente vá ver se está a nevar. Na Serra da Estrela. Sempre é mais longe.
Hoje faria, de bom grado, greve contra as pessoas. Juntava-me aos animais e mandava abater seres humanos. Ok, ok, sou doente - afinal não gosto de pessoas, mas tenho um argumento forte: As pessoas são demasiado ... pessoas. Cheiram a pessoas e sabem a pessoas e quase que dá vontade de gostar mais daqueles que "cheiram a cavalo..."sempre estão mais perto de serem animais.
Costumam-me dizer que sei ser insuportável. Mentira. Sou inteiramente suportável. Caladita, quase sem respirar e longe das facas da cozinha, sou até um ser amistável. Se me passarem a mão pelo pêlo, até mordo sem rasgar membros. E delicio-me com um pote de chocolate - passo pelo menos uma hora de volta dele. Mas se eu estiver assim, sedada, e se vem alguém e faz... e faz ...  e faz aquela coisa de me dizer, a mim, ao bicho mal humorado, de me dizer com a boca cheia para eu TER CALMA ... podem começar a ligar para as funerárias. O bicho vira assassino. 
Porque raio é que as pessoas se julgam comprimidos da calma? e mandarem respirar fundo?Ok eu respiro. Mas sinto-me exatamente na mesma, só mais cansada por ter forçado os meus pulmões. E depois sugerem o ioga. E aí a minha boca fica verde. Ioga. O desporto dos mortos: onde os mortos, estão parados, sem falar, sem reagir, à espera que venha um vento e os desequilibre. O pior é que o vento não entra em salas fechadas - e os mortos ficam para aí três horas na mesma posição.
A única forma de ficar menos violenta é rir-me de alguém. Por favor tropecem e partam a cabeça, só para eu me rir? Não custa nada e ficamos todos a ganhar - o novo Harry Potter, com a cicatriz na testa e o bicho calmo, eu.
Acho que vou também falar mal dos outros. Sabe bem ver os outros pior do que nós e sobretudo mais gordos. 

Odeio pessoas, odeio pessoas, odeio pessoas.
Merda, o meu cão prefere acasalar com a cadela da vizinha, acho que sou pessoa.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Diário de uma quase STAR - 15 de Novembro

Hoje foi um dia muito negativo para mim. Não perdi as calorias que pretendia e ainda por cima sinto-me frustrada - eu vejo o programa dos gordinhos todos os dias e sofro imenso com eles, sinto-me mais magra só de os ver correr... Não entendo como não emagreço a cada agachamento/regro do rabiosque à mostra.
Acho muito mal que não seja eu a apresentar o programa. Sou magra, sou doida por gordinhos e ainda por cima não como carne. A Bárbara Guimarães não é doida por gordinhos - anda com um magricelas e parece contente. Além disso, claro que come carne - os lábios grossos dela representam a gordura acomulada dos bifes. E olhem que eu nem sou de fazer intrigas, mas que é doidivas é...
Também podia apresentar a Casa dos Segredos! Mandei o meu currículo e tudo ... era só uma página em branco que diz currículo. E uma amostra de um perfume.
Não entendo porque é que o mundo não permite que seja famosa e bela e uma bela famosa. Ainda por cima tinha tantas causas para apoiar com o meu dinheiro... Apoiava os gordinhos a não pagarem entrada no Jardim Zoológico (se os familiares da CP andam de borla, faz algum sentido que os primos dos elefantes paguem bilhete para ir ver a familía?!?) e também apoiava a causa do corte dos subsídios - que para mim tudo o que é comprido é feio.
E prontossssssssss, por hoje fico-me por aqui que quero ir ver a Selecção jogar. Tenho pernas para analisar.

beijinhos!

  

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Agora és

Um tempo foi outrora, o momento que te disseram o que eras.
Aceitaste sê-lo, porque era certo, há que se dar nome ao tecto que se dorme,
há que ser coerente. Há que ser forte, mesmo não sendo,
porque já viste um incoerente doente?
Um tempo foi outrora, o momento que disseste que não eras.
E saíste do telhado, mesmo apanhando uma molha, e percebeste que o molhado
é mais saboroso com o vento, é mais verdadeiro que esse tempo,
em que foste só sendo o resultado . um dado automatizado,
daquilo que de ti se pretende.
Porque hoje és a resposta da tua factura,
não és causa imposta, és arte, és aventura de se ser exactamente o errado do outro -
de ser ser só sendo, de se ser, cérebro, alma e corpo.


Porque agora és feito da tua massa e nunca mais serás a taça de alguém


Dedicado a um amigo corajoso

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Corpo reflectido

Vi-me ao espelho. Não questionei grande coisa de momento. Não tive reacções descontroladas nem que valesse a pena grande alarido. Era eu, ali de frente, e se me voltasse, continuava a ser eu - independentemente do meu estado de humor. 
Os dias passaram. O espelho continuava inerte, à espera que o corpo reflectido denunciasse algum tipo de sensação. Nada. Um dia, soltei bafo nele, só para ver o efeito embaciado de um beijo dado num espelho - percebi que o beijo evapora mas a marca fica. Como acontece nos grandes amores.
Os dias passaram. A minha postura indiferente, pouco curiosa, começava a inquietar os dois corpos, o corpo de fora e o corpo de dentro do espelho que me fazia caretas. E eu continuava a olhar para ele com tanto desejo como se olha para um jogo de xadrez - com um fingido ar de interesse. 
Até que um dia o corpo virtual atravessou a dimensão que nos separava e esbofeteou-me. Tocou-me na cara que é minha, e fez dela uma grande bola vermelha, de olhos inchados e cheios de água. Bateu-me tanto até eu soltar um gemido, uma primeira e deserta reacção, e arranhou-me a face com veemência! Chamou-me nomes, empurrou-me contra si e gritou tanto até eu pedir que parasse. E finalmente, o meu corpo do espelho, vendo-me totalmente derrotada, suspirou e olhou para o meu corpo de todos os dias e disse:

Sempre que te olhas assim, a tua alma reage com esta tamanha violência. E é o teu corpo quem sofre.



domingo, 9 de outubro de 2011

certa da sobriedade divina

Tenho a sensação que tudo está parado. Que a vida atrancou no cais, e jura não sair dali voluntariamente.

Esperança vã. O destino, outro nome não se chama que não sorte, porque o drama, é feito na própria cama onde se dorme.
Pobre vítima da sua ilusão fugaz. Nada sou que outra qualquer não seja, nada há de mágico, tudo há de queixa, e este caminho duro terei de fazer incapaz.  Este caminho uno, terei de assumir no susto, de ser dona da minha rota. E nada me vale bocejar de sono, de olho aberto para que o destino me veja e me acorde do ar meio morto, e me livre desta ilusão platónica de ser uma tola romântica. Porque tudo são apenas palavras. Porque tudo é apenas semântica. Porque tudo não passa de um capricho chamado acaso, e não, não há amor direccionado nem talento encravado em cada um de nós. Somos acasos soltos e estranhos, que se acham gritos de moda, gritos de sangue, gritos de nada que não seja na verdade a sova, de se ser apenas humano. De se ter nascido neste, noutro ou em outro ano, porque o raio do acaso assim quis.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Entende isto




Esta busca insensata dos outros,
aumenta uma falta, cada vez maior.
Não és deles, não és dos vivos, nem dos mortos,
és só parte da Terra que não se lembra de ti,
és só facto particular duma causa menor.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

José e Helena

José não precisava de muita coisa. Uma mochila, um par de ténis e água quente, eram os maiores dos seus luxos. Helena precisava de tudo. Tudo lhe fazia falta porque tudo era imprescindível. Tudo era estritamente necessário para se ser feliz. Sobretudo os pormenores. As coisas pequenas eram pérolas de respostas ao humanismo comum. Ele sem coisas, ela cheia de coisas, juntos poderiam atingir o equilíbrio. 
Helena pediu a José que lhe desse uma das suas três coisas. Se ele não precisava de muito, podia ceder-lhe um dos seus tesouros. Ele mirou a mochila já gasta, gabou os ténis, e usufruiu da água quente. Depois, a custo, cedeu-lhe os ténis e aprendeu a gostar do chão frio. Ela ficou feliz, por ter mais uma coisa indispensável, e ele, apesar de mais vazio, sentiu-se feliz por te-la feito feliz. Ambos gostaram da sensação, e por isso quiseram mais.  Ela elogiou-lhe a mochila e invejou a água quente e ele, já sem custo cedeu em primeiro um e depois outro tesouro. E ficou sem nada. 
Estavam extasiados com tamanha felicidade de concretização. Ele sentiu que ela o amaria para toda a vida, porque lhe tinha dado tudo.
Ela ficou corada, aproximou-se dele e quase o abraçou. Depois, mais envergonhada, disse-lhe:
"Deste-me tudo, ficaste sem nada, mas infelizmente não te posso agradecer, porque tenho os braços, as mãos, o corpo demasiado cheio para te conseguir abraçar".

Ele sentiu-se derrotado e, num instinto de raiva, retirou-lhe tudo o que tinha dado! Como podia ter sido ela tão ingrata?
Ela baixou a cabeça, chorou baixinho e em soluços murmurou lamentando - "Mas podias ter beijado a minha boca, que em nada segura e eu teria largado tudo, voluntariamente, por ti".

Devia não devia?

Vejo um pássaro a poisar na minha perna. Devia sentir paz, pelo menos é o que se espera.
Vejo uma cadeira desarrumada. Devia colocá-la certa, pelo menos é o que se espera.
Vejo um miúdo a chorar pela mãe. Devia saber se ela vem, ou não vem. Pelo menos é o que se espera.
Devia ser.
Devia sentir.
Devia ter.
Devia conseguir.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Diário de uma quase STAR!


Vem aí a Latada de Coimbra e com ela, deviam vir as Associações. Associações que protejam crianças fecundadas na Latada. E ainda por cima são crianças que nascem cultas e sábias - vêm a saber todos os nomes, tipos e marcas de cerveja. Repare-se, que são pessoas que deviam ser apoiadas pelo Estado - porque têm mães que as fizeram no estado que se sabe.
Mas quem não conhece a velha máxima de "o que se passa na Latada, fica na Latada?". E eu concordo com isso a 100%. Não quero saber o que eles e elas fazem tão bem debaixo das capinhas pretas.
Existem pessoas, daquelas pessoas boazinhas e simpáticas que todos gostam, que na altura da Latada usam t-shirts iguais e distribuem preservativos. Acho muito bem que o façam porque realmente festa é festa, e a Latada precisa de balões.
Todos os anos verdadeiros artistas revelam-se naquele espaço. Vêm de todos os lados e sabem fazer várias coisas, como cambalhotas no chão e urinar no rio. São os chamados "bêbados-art" que normalmente atraem uma legião de fãs - os outros amigos bêbados e toda uma equipe de preparação e preservação do espectáculo - INEM, Polícia e Assistentes Sociais.    
E porque as pessoas são o que são parem de descriminar quem não gosta da Latada. São pessoas igualmente necessárias no Mundo, especialmente porque são elas que tomam apontamentos das aulas e assinam por nós, enquanto o outro Mundo ouve Quim Barreiros.

sábado, 10 de setembro de 2011

Havia de conspirar qualquer coisita

Estou a sentir-me desintegrada. Toda a gente conspira e duvida de alguma coisa, e eu não consigo entrar na onda. Ainda tento inventar uma ou outra teoria sobre o que fez a quem e porquê que isto está relacionado com tudo aquilo, mas chego sempre à mesma conclusão: bocejar de sono e coçar de cabeça. É que queria acreditar num drama qualquer. Hoje, as televisões injectam-me com teorias da conspiração, mas as conclusões são tão complexas, que desisto ao meio da frase, de entender do que falam. Caraças. Anda meio mundo a lixar o outro meio mundo e eu a comer chocapic com leite quente. E o drama acontece quando estão demasiado moles e já não prestam.
Por isso, tomei uma decisão. Vou interiorizar qualquer coisa muito importante só para amanhã começar a conversa de café assim: "Gostas desse pastel de nata?"; "Ahm...sim, acho que sim"; "Pois, pensas tu que isso é um pastel na nata, minha besta burra...", "Hum... é mesmo um pastel de nata"; "Ahahhah! Então come esse teu dito pastel, depois escusas de vir para aqui chorar!" - feito isto, saio do café em grande drama, olhando uma última vez com malícia. 
Na verdade, não vou chamar besta burra as pessoas que comem pastéis de nata. Ainda por cima adoro pastéis de nata. Mas vou sair com malícia, só para não acharem que a minha vida é um tédio.
Feita esta grande e importante mudança na minha personalidade, decidi também hoje (com tanta decisão num dia, começo a achar que hoje é a passagem de ano), começar não SÓ a ter um riso malicioso, como a fazer o quê? a comer com malícia. Em vez de colocar os meus cereais no leite quente, molhar o dedo para ver se está mesmo quente, e comer os chocapics, de forma pouco entusiástica e a ler as calorias, vou agir de outra forma:
Agarrar na caixa e espreitar lá para dentro - só para confirmar que a CIA  não me está a tramar e a tentar dar-me uma caixa sem brinde ou surpresa;
Colocar o leite na taça e certificar-me que a taça está quente também (para não ter surpresas de leite morno);
Colocar os cereais, um a um, para perceber se são mesmo extra fortes em chocolate, e comer, devagar e pausadamente, fixando o barulho roedor do cereal. Não, a mim a América não me vai acusar de ataques terroristas! Porque eu sei a composição do meu cereal! E nenhuma cabeça pode decorar tanta coisa ao mesmo tempo - como fazer uma bomba e como comer chocapic com convicção.
E pronto, já tenho um ar de quem não se deixa lixar pelo Mundo.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011



Dói tanto perder o que é nosso, mas muito mais quando descobrimos que é emprestado. E não falo de objectos, mas de pessoas que não voltam.



Ele chamava-se José, ela chamava-se Helena. Não se conheciam, nunca se tinham visto e nem sequer eram nascidos. Mas já sabiam que se amavam. Não em jeito de tórrido amor de cinema, onde a alma de um é cravada em alma de outro, mas em jeito de drama real, em que a alma de um sobrevive à conta da alma de outro, mas o condenado não sabe disso.

Ele chamava-se José e disso sabia. Era tão comum, tão normal, tão simples com a sua existência, que se lhe perguntassem o motivo de querer estar vivo, ele encolheria os ombros e diria "Não sei". Na verdade, não sabia grande coisa que implicasse mais do que era suposto. Era inteligente, mas não gostava de sentir grandes emoções. Elas atormentavam-no por serem reais.

Ela chamava-se Helena. Era tão especial, tão única, tão incomum, tão rara com a sua existência, que se lhe perguntassem o motivo de querer estar viva, ela saltaria para o colo da pessoa, beija-lo-ia-a, e diria aos gritos: para dar e receber amor! Ela era composta por uma magia branca, que a tornava débil. Era tão débil, que quase se partia só de lhe tocarem. Tão frágil, que enfraquecia se não sentisse emoções.

Bastou um olhar. Um olhar que o enfraqueceu a ele e a enforteceu a ela, longe de todas as expectativas, para perceberem que dependiam um do outro. Ele, do seu jeito meigo de amar a vida, ela, do seu lado racional de sobreviver. Ela pediu-lhe que a envolvesse, que tomasse conta, que permitisse. Ele, entusiasmou-se e decidiu levá-la num passeio real. Ela, pediu mais segurança, mais verdade na forma como ele lhe pegava, ele recuou. Teve medo de a partir, de não conseguir tocar-lhe com leveza, de a tornar impura. Ela exaltou-se com o medo, ele pediu compreensão.

Recuaram. A frieza de um não suportaria a leveza do outro. Mas era tarde para separar os corpos. Tarde para anunciar separações. Tarde para conceber vida em que um ou outro não existisse.

Separaram-se. Ela tornou-se mais fraca, mais pequena, mais morta. Ele tornou-se mais frio, mais incapaz, mais insensato. Ele diz que não precisa dela, porque o gelo do seu copo não se há-de derreter, ela diz que não precisa dele, porque a flor do seu colo não há-de envelhecer. 

Mas ele chora de noite, ela chora de noite, e a noite chora todos os dias, porque duas estrelas se separaram vivas e foram tentar brilhar em lugar opostos. O problema, é que a luz delas é só um reflexo de uma luz maior - do amor que os uniu.

Hoje parei e reflecti durante dois segundos. Não gostei da sensação.

Vi-me lá, longe, sentada e serena, a fazer jus ao que me fora ensinado -
a dar crédito à minha formação.
Vi-me lá, longe, louca e solta, a fazer jus ao que me foi alimentado -
à felicidade que já foi minha condição.

Agarro as bolas de sabão que o pequeno me faz -
grita, contente, com a existência da magia que se espalha pelo chão,
grita inocente, com a fácil forma de vida, que ainda ama e traz.

Vejo-me outra vez através das bolas, e sinto-me mais pequena.
Elas rebentam, acabam e morrem,
sinto-me outra vez, mulher-dilema.
Elas voam, transparentes e livres,
sinto-me outra vez eu mesma, de mim, com pena.

Caso os dedos e faço força.
Eles estalam, sei que faz mal, mas esqueço isso.
Estou nervosa, quero sair, mas temo a mossa,
eles estalam, sei que faz mal, mas fico nisto -

até que a noite acabe -  até que se transforme em dia - até que o tempo, já se sabe - diga que é tarde para querer ser dia.



domingo, 4 de setembro de 2011

Vou contar-te um segredo. Sei mais de ti do que tu própria imaginas





Sei que te achas incompreendida. Senhora de ti,
que sabe o que sabe, porque aprendeu com a vida,
que dá o que tem mas sempre contida,
do que solta e sentir-se não querida por ninguém.

Mas vou contar-te um segredo. Não estás certa nisso que sentes.
És só, mas só porque te vales de ti mesma,
não porque não me tenhas, e mesmo que tentes,
Não arredo pé.
Vou fingir não saber andar.
Vejo que o que és - é o que é
Vou saber sempre te aceitar.

Não adianta esse casulo tolo,
Não adianta dizeres que não me vês,
Não adianta chorares, sem consolo,
porque eu estou aqui hoje.
                         amanha. depois. No outro e no outro mês.
Até o teu cabelo loiro ser branco,
até o teu sobrolho ser falso,
até o teu andar ser manco,
e o teu passo ser um passo ao lado do meu largo abraço.

Porque és minha amiga e eu gosto de ti assim.

Dedicado a uma amiga que acordou não se sentindo especial - e isso nunca vou permitir que sintas

sábado, 3 de setembro de 2011

Percepção

Aos cinco anos achava que só eu tinha mãe.
Aos dez anos achava que o Pai Natal existia.
Aos quinze anos achava que as pessoas eram todas boas.

Aos vinte anos chorava porque tudo isto era mentira,
porque tudo isto inventado por crentes aldrabões,
que em gabanço à sua crueldade,
se fingiam felizes, para nos darem empurrões,
com o maior do balanço,
acertando na minha estúpida ingenuidade.

Agora já não acho mais nada.
Agora já não quero mais nada.
Agora já não reinvento mais nada.
Agora sei que nada é apenas nada
mesmo que me prometam tudo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Chamava-se Beatriz

Ela era aquilo que os outros deveriam ser. Eles não sabiam disso, porque coitados, apenas a admiravam, de boca aberta e pescoço levantado, enquanto esperavam por outra refeição. Ela, de corpo gordo, despachada e frontal, adorava que a esperassem, enquanto cozinhava e desejava secretamente que os seus netos nunca mais crescessem. 
Todos por ali passavam. Os filhos emigrados, as noras com tiques de emigrantes, os filhos mais mimados e as noras mais deslumbrantes. Todos pediam a sua bênção, àquela mulher-fenómeno que tomava conta de todos, deixando que os ingénuos pensassem que eram eles que tomavam conta dela. Era impressionante como a imortalidade tinha chegado àquele lugar. Sim, todos, todos sabiam que as pessoas fortes e frontais que tomam conta das famílias nunca podem morrer. São demasiado fortes e frontais, demasiado precisas, demasiado nossas.
E ela era a mais especial. Depois da comida aos miúdos, os copos aos graúdos, e os ensinamentos às noras, ela sentava-se, colocando as mãos em cima da mesa, apoiando o corpo gordo, e contava histórias. Falava dos vizinhos e inventava-lhe nomes e todos riam com a capacidade daquela mulher em fazer sala. De olho nos netos, que desprezavam as couves, ela presenteava as bem comportadas que comiam tudo, dando-lhes colo e gelados. À noite, com a desculpa de ter medo, dormia agarrada a outra neta, que adormecia embalada naquele ressonar cansado, depois de o terço mal rezado e do beijo terno.
Ela era a mais especial. O tempo, começou a querer matar-lhe as pernas, mas mesmo apoiada pelos braços dos filhos já velhos, ela era a mais especial. E um dia, esqueceu-se dos nomes. Os netos, eram os netos e as particularidades já não interessavam. Mas ela continuava a ser a mais especial. 
Pele de bebé, riso de marota, humor deslumbrante, pernas gordas, ressonar cansado, coração imortal. A mais especial esqueceu-se de rezar o terço, pediu que o rezassem por ela, e que os netos nunca mais crescessem. Abriu-se a capela, abriu-se o fim do tempo dela, abriu-se os olhos magoados por a imortalidade ter ido habitar em outra casa, abriu-se a saudade dela, do cheiro dela, do riso dela, do tempo dela que era o nosso tempo de vida. Amamos-te tanto, desde o tempo em que nos davas gelados, em que nos davas palmadas, em que pedias que comêssemos tudo.
Não sei como vamos entregar a mais especial a outros mundos. É que afinal as mais fortes e frontais também morrem.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

TPM - Tem Paciência e atura-me Má!

Estou farta de nutricionistas. Não daqueles que dizem para comer uma colherzinha de café de qualquer coisa que saiba a comida de pássaro, mas nutricionistas orais. Não conhecem este termo? Pois é muito corrente no meu vocabulário e é uma profissão muito em voga. Nutricionistas orais são aquelas pessoas que falam sempre acertado, que comem (lá está) as palavras erradas e articulam, muito devagar, teorias sensacionais sobre como é esta palhaçada a que chamamos rotina. São pessoas que não dizem merda, mas "cheira a pum" e que não comem atum enlatado porque não usam moedas de 50 cêntimos - que é quanto custa a comideca de pobreco.
E o pior desta gente é que estão sempre felizes. E não há quem ature gente feliz. Gente bem sucedida, gente bem amada, gente rica, e com filhos lindos e igualmente felizes. Que ciclo de mete nojo. Sempre que me cruzo com nutricionistas orais, sinto-me mais gorda. É impensável que estas mulheres que falam bem, andam bem, comem bem, tenham 50 anos e pernas melhores que as minhas. E ainda por cima estão sempre tão felizes! Decerto não apanham 3 metros, perderam outros 3, andaram de comboio, perderam o barco, esperaram pelo táxi e chegaram a casa a tempo de fazer o jantar. 
Que mania que as gajas têm de escreverem sobre nada quando estão mal humoradas e, de ainda por cima, esse nada ser sobre a futilidade de sentir inveja. É feio, fica mal, é proibido, mas não há quem não inveje. Eu invejo a comida do outro ao lado sempre que acabo de me servir, invejo as pernas que passam, invejo ver uma publicidade engraçada e não ter sido eu a inventá-la (e era tão simples!!). E invejo as gajas que não sofrem de tensão pré menstrual, que existe, é real e eu tenho-a todinha. E parem de dizer que "nasceram assim, perfeitas, porque é hereditário". Espero que tenham cáries nesse sorriso lindo que me mandam.
E por hoje é tudo. Uma mão cheia de mau humor que vai ter consequências graves - chocolate e coca-cola toda a noite. Quero lá saber, o interior é que conta - o do pote do chocolate claro, porque é lá no interior que está a maior quantidade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Finge


Cala a boca ao jantar.
Endireita-te. Mastiga com pausa,
Bebe sem parar, mas nunca digas a causa,
Da dormência desse ar.

Dorme para o lado que não gostas.
Finge ler a bíblia sagrada!
Enfatiza a dor nas costas,
Mas nunca afies a espada,
Que guardas, debaixo da almofada,
Onde o teu bebe dorme.

Vê-te ao espelho, aprumado,
Ensaia o discurso ensaiado
E suspira três vezes ou por todos os meses,
Que não dizes a verdade.

Alista-te no exército que te condena,
O que te aplaude na cena
Em que cais de cabeça, no cais abandonado.
Não peças socorro. Não abanes a bandeira,
É que o teu amigo, dá-se com o inimigo,
E agem no fundo, da mesma maneira.

Diz que amas a tua mulher, mesmo que não a conheças.
Cumprimenta o vizinho, não tens educação?
Anda leve, agradece o ninho,
Mesmo que não mereças, aninha a condenação.

Tira mais fotografias e deixa que os outros vejam,
sorri em todas. Inventa alegrias.
Cria legendas, para aumentar a percepção.
Critica a suposta inveja que te têm,
mas lá dentro lamenta,
que não te resgatem.
que não te captem.
que não te soltem.






O fenómeno ali! Adondi?

Anda aí um novo fenómeno no youtube. Chama-se Maddi Jane é uma miúda de 12 anos e parece que é o novo talento mundial. Toda a gente fala e escreve sobre isso, e eu faço-o agora também. Não, não tenho nadinha a acrescentar mas queria a vossa atenção. Portanto, comecei assim, com assuntos comuns e tal.
Estabelecida esta relação inicial - escrever sobre coisas de interesse do público - volto ao meu egocentrismo que tanto gosto me dá. Por isso é que pessoas como eu têm um blogue, para serem Sóóó elas a comentar como se Sóóó elas tivessem acesso a esse grande jornal chamado wikipédia. E depois vocês pensam: Ah mas nós podemos comentar o que tu dizes, oh palerma!! AHAHA, respondo eu, por acaso vocês vêem comentários no meu blogue?? Tomem, falo sozinha! Ok, essa reflexão foi triste. Egocêntrica feia e triste.
Espero ter esclarecido que de facto, eu tenho centenas de comentários, mas apago-os todos, porque não quero que outros blogs fiquem tristes por não terem visitas. Adiante, esta coisa de sentirmos o poder na mão com pequenos gestos, é algo que dá que pensar.
Por exemplo, os médicos. Imagino-os sempre, sentados na sua cadeira giratória, com aquele ar completamente comprometido, a dizerem: "Se Eu não descobrir o que tem, hum, duvido que alguém o faça". "E, e, e sabe o que eu tenho doutor!???" "Sei. Mas não vou dizer. Vou deixar que o seu médico de família descubra, porque a vida dele no centro de saúde é menos interessante que a minha..."
E prontosss, daqui nasce o tal poder.  E os presidentes da Câmara? São os reis do egocentrismo: "Muito bem, vou cortar a fita, para vos mostrar a mInha Junta onde Eu vou ser presidente porque Eu ganhei as eleições". " E vai deixar a fotografia na parede do antigo presidente?", "Naturalmente que não! Eu prometi poupar nos gastos e é isso que vou fazer! Vou usar a moldura da foto dele para colocar a minha!".
Mas não posso, não posso deixar morrer o assunto (que na verdade já morreu, já foi enterrado e já está na missa do 7º dia), sem falar dos electricístas. Meu deus, alguém lhes diz que o "quadro eléctrico morreu" não é a mesma coisa do que dizer "lamento, mas a senhora tem apenas 6 meses de vida?". E lá vão eles, com o lápis atrás da orelha, dar a triste notícia à família que se encontra reunida em prantos. Sem forças, a mãe pergunta, com pesar: "E pode-nos dizer a causa?", e ele, com dor responde, "Foi um fusível, minha senhora, foi um fusível.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Inglaterra Vs Síria (podia ser um jogo de futebol, mas não é)

Andam a matar-se em Inglaterra. Aliás, na Síria também, mas parece que choca mais ver os loiros sardentos a gritar contra a anarquia, do que os manifestantes da Síria a aclamar pela democracia.
Porque o ser humano é assim - arrepia-lhe a pele, as situações dramáticas que atingem pessoas com o qual se identifica. É a lei da proximidade, certo senhores jornalistas? Mas nós portugueses devíamos estar mais tocados com drama da Síria, afinal estamos mais perto da repressão e do drama social que atinge milhares, do que do sofrimento londrino.
Estamos igualmente um caos, a diferença, é que em Londres estão a destruir as lojas daquelas pessoas que lá vivem e lá trabalham e a nós, estariam a destruir as lojas dos outros, que é como quem diz, as lojas dos chineses. Além disso, na Síria os refugiados vivem em condições miseráveis, e em Portugal, refugiamo-nos nas nossas condições miseráveis para não lutar pela Democracia (o que dá um ponto à Síria e zero a Portugal).
Seja como o for, a guerra está pronta a continuar e acho que os nossos pequenos sargentos têm tudo para dirigir a causa. Não falo dos homens que fizeram a tropa, mas dos putos, os filhos dos pais que alimentam a tropa. Aqueles que passam a vida a brincar com os jogos de estratégia militar: Coordenam, matam, espiam, ganham pontos, e depois de manhãzinha,  quando têm de dar de comer ao cão, eis que o verdadeiro conflito aparece - Mãe!!!Não sei fazer isto sozinho. Tens alguma Ruger Super Warhawk para o matar? Já é velho e é mais fácil... (Ok, confesso, não sei nome de armas e quis dar uma de sabe-tudo. Copiei esse, porque me pareceu imponente. Saltem à frente e leiam somente arma).
Sabem o que era giro? Era que a escola não fosse obrigatória. Exactamente, chamem-me ignorante e ridícula,  mas gostava de ver, perguntarem aos nossos miúdos: "Queres fazer a composição ou ir trabalhar para uma fábrica? Erro. A fábrica tem armas cortantes, como máquinas para cortar madeira, seria mais atraente.
Bom, vou ligar a televisão e ver um CSI altamente cheio de emoções, para ver se consigo perceber a história do pêlo amarelo grisalho (uuuuu) que encontrei na minha carpete.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sonhos transpirados



Quero é escrever poesia antes que me cortem os braços.
Já me tiraram os maços, os amaços, o baço, a alegria,
já me acrescentaram tempo ao tempo que me tiraram
e já me deram um momento, pr´a despedida derradeira.
Quero adormecer sem barulhos de lá ecoados,
E acordar sem os sonhos transpirados
e os braços inchados, chupados pela enfermeira.
Quero voltar-me em lençóis meus e coloridos,
sem serem iguais aos dos outros –
Feios e feridos, sem qualquer alma a mais.
Quero que desapareça a cortina que nos separa:
Quero um muro, duro, intransportável, consistente.
Não quero mistura de gente com gente,
Quero apenas um quarto sem sobressalto,
sem medo de ao acordar, o ver vazio –
e mais uma cama por ocupar.
Mais um dia de doente que sabe a doentio.
Quero que não falem comigo,
mas que me visitem sempre.
Quero ser calmo e inteligente na mágoa que me calhou,
Mas não ser diligente a aceitar o que me acamou.
Quero abraços grandes, depois e antes
de sair daqui. Não quero mais sorrisos forçados,
nem coros ensaiados com o dizer sensacional.
Quero apenas sabores, comidas com cores
E tudo para que acorde e veja um dia normal. 

Marine Antunes

domingo, 7 de agosto de 2011

Diário de uma quase STAR _ 7 de Agosto

Querido Diário: Hoje fui ao Zoo. O-D-I-E-I! 
Ando eu nesta vida de fazer pose durante horas, besuntar-me com óleos sexys, piscar o olho a torto e a direito, fazer beicinho para as fotos, de tal forma, que os lábios já se pegaram, e os turistas ricos querem tirar fotos com os macacos?! Fazem exactamente o que eu faço, pousam, comem, exibem-se, mas a diferença é que são peludos. Ah, e caçam os piolhos e comem-nos - nós caçamos os macacos do sótão e comemo-los. Diferente.
Bom, no entanto, fui também ao espectáculo dos golfinhos e não percebi a emoção das pessoas a baterem palmas ao bicho, só porque ele dava piruetas no ar e dizia adeus. O meu tareco também salta do sofá para o chão e não vejo ninguém a fazer-lhe a onda ... é o problemas das cunhas. Desde que os golfinhos tiveram a baleia-prima Willy na televisão, acham-se donos do mundo e da ribalta e o que me enerva é que não há ninguém a falar sobre isto! Enfim, por isso é que eu, quase Star, merecia um lugarzinho numa revista qualquer a debater estes assuntos. Hoje são as baleias e os golfinhos a dominar a fama, amanhã são os elefantes a dominar os reality shows. Os animais também acasalam em directo para todos, sem se importarem que o público os veja.
Outra coisa que me fez espécie foi ver escrito em todo o lado "Ajude os animais a não se extinguirem". Oh queridos, eu até sou boa moça e até já pedi pelos santos, mas não me peçam para me envolver com um rinoceronte ou com uma girafa só para salvar o Mundo. Podem-me chamar nomes, mas eu sou selectiva!Além disso o rinoceronte já tem cornos que chegue, não precisa de outra cabra a estragar-lhe a vida.
Por hoje é tudo! Beijos com serpentinas!
  

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Diário de uma quase STAR _ 5 de Agosto

Querido Diário. Estou muito excitada. Ontem ganhei 3 amostras grátis do mesmo shampoo que a Paris Hilton usa. O problema é que ela é loira e eu sou morena, mas já alterei esse pequeno obstáculo e fui pintar o cabelo de loiro. Agora é só colocar, enxaguar e fazer pose! 
Eu adoro a Paris Hilton, no entanto, sei que nunca vou ser como ela. Ela fez um filme pornográfico e colocou-o na internet! Obviamente que eu sou incapaz de fazer isso! ... É que não sei colocar vídeos no youtube. Não faz mal, não há problema nenhum, porque sei que vou realizar o meu sonho à mesma. Este Verão, já comecei a traçar esse caminho, imitando as pessoas conhecidas. Cá vai:
Sítios obrigatórios a ir: Praia e festas em discotecas;
O que usar na praia: Biquíni brasileiro, 300 pulseiras, flor no cabelo, anéis, colar, óculos de sol (o único problema foi quando me afoguei no mar - com o peso da vestimenta).
O que levar para a praia: Um livro (segundo problema, não tinha nenhum, por isso levei o único que encontrei - o livro de receitas da minha mãe).
Agora, espero ansiosa, agarrada ao livro de 100 receitas de comida chinesa, que algum fotógrafo me apanhe muito desprevenida. Além de estar linda, vou parecer super culta com este livro e até sei dizer duas palavras em chinês: Restaurante Chinês.
Esta noite, tenho que encontrar algum jogador de futebol pelos lados do Algarve, para ver se simulo um divórciozeco qualquer. Só espero que não me pergunte nada de clubes de futebol, que disso, a única coisa que sei é que o Presidente das República que se chama Pinto da Costa, é dono do Futebol Clube do Porto. E que o José Mourinho tem um irmão gémeo que se chama Number One. 
Adeus Diário, até breve!


   

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Diário de uma quase STAR

Este é o diário de uma quase Star. Uma adolescente bonita, com desejo de vincar na vida e que rapidamente percebeu a sua enorme inutilidade. Acredita no seu bom par de mamas e o seu sonho é casar-se e divorciar-se 5 vezes. Como fazem as estrelas. 

Tomem atenção porque isto é exclusivo e totalmente verdade: O Cristiano Ronaldo mandou-me uma mensagem de amor. É verdade, juro que somos amigos, aliás, até me dou bastante bem com a senhora sua mãe e já emprestei roupa às pobrezitas das irmãs, que coitadas não têm gosto nenhum. Ele está doido por mim! Já mandou três mensagens e disse a um colega meu, que é primo de um amigo dele, que me "acha boa". E toda a gente sabe que vindo da boca do Ronaldo, significa que vou andar de iate. Bolas, tenho de comprar chapéus para a dona Dolores gostar de mim.
A minha família está muito orgulhosa e o sonho da minha mãe é que eu apareça na capa da TV7 dias. A minha avó só chora porque diz que somos todas umas porcas. Não faz mal, porque o escândalo da velha deu duas páginas e meia de revista. Fomos ao cabeleireiro, eu e a minha mãe, e pintámo-nos muito, porque a minha mãe disse que se os olhos tivessem carregados de pintura preta, ao chorarmos, era mais chocante.
Agora o meu sonho, depois de casar com o Cricri, é ser actriz. Quero ser artista e aparecer na televisão para depois ir à entrevista da Alta Definição. Aliás, já sei o que vou dizer quando for entrevistada:
Daniel: O que dizem os seus olhos?
Eu: Que o mundo tem de ser melhor!
Até me emociono a pensar em como sou inteligente. A minha mãe diz que saio toda ao lado dela, porque os primos do meu pai são burros que nem uma porta. Uma vez, ganharam uma televisão numa rifa e doaram-na a um vizinho deficiente. A minha mãe esteve dois anos sem falar para eles, porque, diz ela, deficiente é quem dá.
Bom, agora vou fazer uma tatuagem no braço com o nome do Cricri e desenhar roupas. Todas as artistas desenham roupas. Espero ansiosa por outra mensagem do meu amor, enquanto decoro a música "Obrigado mano" para fazer um brilharete na família!


Andam a chover pássaros mortos


Andam a chover pássaros mortos. Antes rezava-se para que não nos caísse cócó de pombo na cabeça,  agora pede-se que não nos caiam animais mortos do céu. Que não sejam cegonhas, que essas são pesadas. E ainda por cima trazem bebés pelo bico, e isso ninguém quer. Pelo menos se vierem com 11 anos, esses ninguém quer mesmo. Onde estava mesmo? Nos bichos que nos caiem cabeça abaixo como, dizem uns, fossem sinais de um Deus transtornado com tanta porcaria que vê. Não condeno que Ele nos mande cócó e pássaros mortos. Merecemos a praga. É como se Ele nos dissesse: "Achas-te capaz de matar?Pois vamos ver se consegues carregar com as mortes que provocas". Quando está mais zangado, deixa os pássaros, e prefere deixar cair os aviões. 
Esta notícia provocou-me reacções alérgicas. Não quero que me caiam animais mortos em cima da roupa nova e muito menos quando eu estiver na revindicação a favor dos animais! Não quero ser incoerente, já chega quando critico a vizinha "porque tem a galinha melhor que a minha" e a seguir vou ao quintal dela (pode ser a senhora Berlinda) , matar a galinha e assá-la no forno. 
Que estupidez a minha, ninguém faz isto. Sempre fui exagerada .... Não acreditem nesta coisa que inventei agora, de gente capaz de criticar o que a outra tem e a seguir ir lá e ficar com a coisa altamente criticável. Como se a senhora Queriduxa fosse criticar a senhora Berlinda, por conta de uma galinha, e depois fosse à televisão dizer que a galinha era dela. Onde é que eu já vi isto? 
Acho que merecemos que nos caiam pássaros mortos pela cabeça abaixo. Preferia que caíssem potes de lucidez, mas o problema, é que haveria muito cromo que se desviaria dos potes ... mais vale estúpido que lúcido. E toca a apanhar os pássaros que pode ser que guisados ainda se comam. Andam uns a castigar-nos e andam outros a brincar com a cena. Não mandes mais pássaros saudáveis, para ver se eles se riem depois.
  
Notícia em: http://www.ionline.pt/conteudo/140704-nova-chuva-passaros-mortos-na-ilha-reuniao

terça-feira, 2 de agosto de 2011

1º Relato_ quando eles deixaram de dormir

Não é que me traumatize ou me orgulhe. Por vezes tira-me o sono, outras, faz-me sorrir com algumas saudades masoquistas.
Tinha 13 anos quando eles deixaram de dormir. Era uma garota feliz, com preocupações básicas e fulcrais - quem seria o meu primeiro namorado e qual o presente de Natal a pedir nesse ano. Vivia pacatamente, já com o feitio afinado. Sabia tudo sobre tudo, e não se podiam atrever a chamar-me à atenção. Prepotente e segura de mim mesma, mas incrivelmente despreocupada com a vida, que deveria agitar os adultos, não as pré-adolescentes mimadas.
Tinha 13 anos quando eles deixaram de dormir  e perceberam que a excitação de falar mais do que ontem, começava a acalmar. O sono era maior que a vontade de brincar e as dores nas costas, não faziam sentido àquele miúda que fazia desporto desde os 6 anos.
Já não me importava comer, já não me importava ser a principal nas festas escolares. Queria o meu canto recatado e que falassem baixinho, porque tinha muito sono. Nunca falei disso, senão ao meu diário amarelo, mas agora o tempo passou e urge-se que as reflexões me ensinem a crescer.
Tinha 13 anos quando eles deixaram de dormir porque o seu bebé tinha cancro.

Hoje, enquanto o meu afilhado ria e tentava colocar-se de pé

Os olhos mais pequenos são os que maior vêem –
não prejudicam, não enterram verdades - meias,
apenas transtornam aqueles que os fixam.
São lupas de inocência, só daqueles que lá moram,
São espias de indecência,
para quem age por fora. 

Pinto a cara, para te fazer rir

Porque às vezes é preciso pintar a cara, para te chamar a atenção


Dedicado aos meninos e às meninas da APPDA em Coimbra, que me tocaram na alma quando me sorriram. Obrigada meus anjos, por serem exactamente como são.


Olha eu!
Tão bonita que estou,
vestida de amarelo e de rosa e cintilante,
para que te encante,
e me leves, como eu sou.

Olha eu!
Que não sei escrever o meu nome;
Nem sei quem mo deu!
Mas se tentares, eu digo! Eu dou-te o que é meu,
se prometeres que a visita tem um mais,
como nas contas que se some.

Olha eu!
Que caio, para te rires,
que corro e desmaio e bato-lhe a ela,
se me pedires,
que mordo e cuspo sem maldade,
achando que é próprio da idade.

Olha eu!
Que sou frágil e diferente,
Que voo sem asas e sem transporte.
E sei que se não fosses diligente,
Olhavas-me sem ser apenas à sorte.

Olha eu!
Que grito alto, sem razão,
Que te assusto, que te incomodo,
porque quero que me pegues ao colo,
e que percebas a minha intenção.

Olha eu!
Que espero que veles por mim
e me torne, e me tomes, um ser
que seja igual para ti. Igual não!
Mas suficiente –
Assim, já serei gente?

12 de fev 2011
Marine Antunes



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tobias zarolho

Quando era miúda tapava os 100 peluches com mantas, camisolas e saias, para não terem frio durante a noite. Jurava que o Tobias, mesmo com um olho arrancado, sabia que eu deixava os compadres peluches passarem frio. E aquele olho arrancado seria vingado numa noite dessas, pensava eu. O Tobias já faleceu e vive feliz no céu dos peluches, onde o barbie-cabeleireira vive também. Tiveram bébés que saíram loiros como a mãe barbie e zarolhos como o pai Tobias. Infelizmente, os peluches foram substituídos por outros bonecos mais feios, como as bonecas insufláveis. Fazem truques e também têm o olho arrancado, só não digo de onde. E isto dá que pensar: Ontem brincava aos pais e às mães, hoje as crianças estão proibidas de brincarem aos pais e às mães sem o planeamento familiar ao lado. Mundo cruel este o dos meninos de agora. Mais vale brincar com a barbie-cabeleireira que tinha três mudas de roupa e pintava os olhos! Agora a barbie já não representa profissões- vem com o recibo verde na mão. Ainda bem que fui criança há uns anitos, não aguentaria tamanha pressão de ter de saber formatar um computador enquanto a minha mãe me muda as fraldas.

Tobias zarolho descansa em paz.

Dependente de mim

Já não escrevo há tanto tempo – parece que deixei de sentir.
Sinto-me como se tivesse feito batota, a mesma falsa garota,
que cai no chão porque se deixa cair.
Não posso deixar que me atravessem o orgão –
As letras engolidas, decifradas, decoradas,
as mesmas das mesmas que hoje já são moucas,
as malvadas sujeitas que permito que sugam,
as mesmas que já não gosto, mas que não sei outras.
Não posso facilitar despedimentos.
Entre mim e o ser que construo, entre a minha alma
e a própria que falo e mesmo eu que educo.
Porque só dependo de mim mesma –
Sem mãe, nem pai que se responsabilize,
Nem estado, nem entidade que indemnize,
Serei sempre água do suor que emito
e carne do músculo que permito,
o que erroneamente eu fizer.
Caso a caso, relembro os factos,
São comuns, não raros e tantos que até farto –
De saber que ser falhada às vezes sou.
Mas serei sempre eu mesma
A orgulhar-me do que mudou.

Marine Antunes

Quando me apontaste o dedo na rua

Quando me apontaste o dedo na rua,
Não entendeste que me acertaste.
Não é que a minha vida seja tua,
nem que mereças que seja eu a justificar-te.

Mas quando me apontaste o dedo na rua,
a ferida que ainda sangra, rebentou.
E não fui eu, não foi ela que se descoseu,
foi o teu dedo manhoso que a ficcionou e a rompeu.

Quando me apontaste o dedo na rua,
os meus olhos cobriram-se de lágrimas.
Não por ti (que nem te conheço)
Mas porque no momento, não virei a página
e não impus o lugar que eu mereço.

Ai se os gajos tivessem troco!

Vivo perto de Leiria. É verdade, terra de gente boa e de gente mais ou menos, mas sobretudo, uma terra que quase, quase me fez senhora e dona do meu nariz.
Estremeci quando soube: O estádio de Leiria está à venda.
Ora muito bem, vamos por partes. O senhor estádio é como um bibelô. Bonitinho, engraçadinho, olha que coisa gira e muito bem, muito bem - resumindo, não serve para coisa alguma. O bonito disso tudo é que ocupa uma cidade inteira e eu nem quero imaginar o que poderia existir naquele lugar. Digo eu aos turistas: Aqui é o Castelo, lá em baixo o mercado e aqui está este coise, grande, imenso e caro que está tanto de utilidade como a carpete de 20 contos da minha avó que resiste às traças no sótão. Mas o melhor, o melhor é que soube que o coise está à venda! Mesmo ao pé do mercado, onde os vendedores impingem as "Lacostas" e as "Nikas"!  E eu estive mesmo para comprar, mas os doutores não tinham troco de 50 euros e nenhum maluco dá mais de 20 pelo coise...

Olhe, se faz favor, esse lugar está ocupado?

Obviamente que os lugares estão ocupados.
As salas estão cheias, as filas de trânsito estão cheias, as discotecas estão cheias, as pessoas estão cheinhas, as televisões estão cheias (de gente bonita, burra e agora-é-que-vou-ser-conhecida-nem-que-meta-as-mãos-à-goela). Os psiquiatras estão cheios. A internet está cheia de mais do mesmo de gente, como eu, que escreve na ânsia que alguém venha, finja que lê e diga: "Olha a coisa! Afinal existes! não és miragem provocada pelas drogas que tomo ... que giro".
Mas somos bestas espertas nós. Não desistimos de entrar nas salas, de furar a fila, de espreitar para a discoteca para ver se o vemos, de colocar cintas, de fazer aparições raras e absurdas na televisão (Mi culpa), de ir ao psiquiatra só confirmar que não estou maluca.
E acabamos todos por escrever nos perfis das redes sociais, que somos "artistas e escritores", enquanto fazemos cábulas para passar no teste de cultura geral da faculdade. Até tem graça a nossa arte manhosa, não tem?   Só queremos mesmo um espacinho neste mundo de robôs. Já não digo para sermos artistas, mas para sermos ouvidos nem que a outra pessoa não repare que temos sotaque.