Já percebo porquê que as coisas boas, verdadeiramente especiais, acontecem quando não estamos à espera. Porque se estivéssemos, certamente teríamos tudo planeado: a máscara perfeita, o sorriso composto, o cabelo arranjado, os argumentos refinados. Nada poderia falhar no encontro perfeito com a felicidade, que seria, em pouco tempo, transformada num bolo de hipocrisia.
Agora sento-me na esplanada a mirar quase nada. Não espero que me escondam os olhos, e digam "advinha quem é", porque afinal, já não quero saber. Perdi a curiosidade mesquinha de querer abrir os presentes antes da noite do Natal, agora quero apenas pegar no papel de embrulho e gabar-lhe a cor. Acho que foi assim que apareceste. Num dia banal, nada expectante, sem papel de embrulho e sem sirene, a avisar. Apareceste. Nada de espectacular, nada de evidente, nada que esperasse - e foi o suficiente. Sem alarido, fizeste de uma sexta-feira 13, dia de Natal e fizeste do meu sorriso, o mais bonito. Ele abriu-se, com o tempo, e rasgou-se, sem querer. Não foi forçado, não foi esperado, não foi necessário, mas foi suficiente.
O suficiente para te adorar.
Toda a gente diz tanta coisa. Toda a gente sabe tudo sobre toda a gente. Marine tenta dizê-lo em diferentes géneros, em tons dispersos, na tentativa de fugir à rotina da palavra que gasta a saliva dos Homens.
domingo, 16 de setembro de 2012
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Quero lá saber
Danço, na dança que criei, com um ritmo estranho,
um acorde atrapalhado, um tom que destoa,
um passo mal dado, um vestido que não acentua,
uma musica estranha, que faz o meu corpo, mal feito, fazer a dança,
que me faz suar e rir, numa roda tonta, que na volta, me faz cair,
por ser uma dança, tão fraca de qualidade, que marca magoa a anca,
porque fui apenas eu que a fiz.
E na minha cambalhota louca,
de riso oco e mouco,
oiço o meu coração bater,
num frenesim de quem tem tão pouco a perder,
tão nada a ganhar, numa inconsciência solta,
de que ser-se feliz é só a troca,
do mal pelo bem, do eu, pelo quem?,
do meu mundo, isolado, inventado, malcriado às vezes,
narcisista, de quem faz uma dança só para ela, e que ninguém gosta.
E agora numa confissão secreta,
perguntam-me se me importo:
Quero lá saber a nota correta, ou o conhecer o artista da moda.
Quero é ser eu, feita de batota,
feita de falha, gralha, como aquele que tem dois,
mas só lhe funciona um rim.
Quero ser aposta grossa, dum mal enfeitiçado,
e não uma linda garota,
que tem o nome ali gravado, para o Presidente assinar.
Sou só eu - um maço de grande atrapalhação,
trago o importante, aqui junto ao coração.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Não é obrigatório
Muitos precisam de condescendência, para poderem brilhar
agem sem consciência, numa falsa capacidade de ascensão,
obrigados a levantar e a voar na busca do sucesso
quando na verdade são mais felizes no chão.
Alguém impôs a obrigatoriedade de brilhantismo,
e todos querem "ser alguém na vida"
ter nascido não faz já de nós alma merecida
de sermos qualquer coisa que não tenha magnetismo?
Numa sem vontade de impressionar,
há que bater ao ego e implorar que cresça -
Há um mundo inteiro que quer aplaudir,
com um sorrateiro e falso gosto de ouvir.
Caí-se no engano de tentar fazer o numero sensacional.
Abracadabra! Faz qualquer coisa e pira-te...
Não há verdade, não há capacidade e não faz mal:
Ser só aquele tipo que mira.
domingo, 2 de setembro de 2012
Sonhos Transpirados
Quero é escrever poesia antes que me
cortem os braços.
Já me tiraram os maços, os amaços, o
baço, a alegria,
já me acrescentaram tempo ao tempo que
me tiraram
e já me deram um momento, pr´a despedida
derradeira.
Quero adormecer sem barulhos de lá
ecoados,
e acordar sem os sonhos transpirados
e os braços inchados, chupados pela
enfermeira.
Quero voltar-me em lençóis meus e
coloridos,
sem serem iguais aos dos outros –
feios e feridos, sem qualquer alma a
mais.
Quero que desapareça a cortina que nos
separa:
Quero um muro, duro, intransportável,
consistente.
Não quero mistura de gente com gente,
quero apenas um quarto sem sobressalto,
sem medo de ao acordar, o ver vazio –
e mais uma cama por ocupar.
Mais um dia de doente que sabe a
doentio.
Quero que não falem comigo,
mas que me visitem sempre.
Quero ser calmo e inteligente na mágoa
que me calhou,
Mas não ser diligente a aceitar o que me
acamou.
Quero abraços grandes, depois e antes
de sair daqui. Não quero mais sorrisos
forçados,
nem coros ensaiados com o dizer
sensacional.
Quero apenas sabores, comidas com cores
E tudo para que acorde e veja um dia
normal.
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