domingo, 2 de setembro de 2012

Sonhos Transpirados



Quero é escrever poesia antes que me cortem os braços.
Já me tiraram os maços, os amaços, o baço, a alegria,
já me acrescentaram tempo ao tempo que me tiraram
e já me deram um momento, pr´a despedida derradeira.
Quero adormecer sem barulhos de lá ecoados,
e acordar sem os sonhos transpirados
e os braços inchados, chupados pela enfermeira.
Quero voltar-me em lençóis meus e coloridos,
sem serem iguais aos dos outros –
feios e feridos, sem qualquer alma a mais.
Quero que desapareça a cortina que nos separa:
Quero um muro, duro, intransportável, consistente.
Não quero mistura de gente com gente,
quero apenas um quarto sem sobressalto,
sem medo de ao acordar, o ver vazio –
e mais uma cama por ocupar.
Mais um dia de doente que sabe a doentio.
Quero que não falem comigo,
mas que me visitem sempre.
Quero ser calmo e inteligente na mágoa que me calhou,
Mas não ser diligente a aceitar o que me acamou.
Quero abraços grandes, depois e antes
de sair daqui. Não quero mais sorrisos forçados,
nem coros ensaiados com o dizer sensacional.
Quero apenas sabores, comidas com cores
E tudo para que acorde e veja um dia normal.












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