sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Nem com água sai



A ingenuidade cura-se. É uma doença maldita que alguém nos pegou na infância e, vai-se lá saber porquê (talvez alguma deformação genética), não passa com a idade sem medicamento forte. Eu tenho esse defeito, essa mossa, essa merda que não sai com água.
Às vezes nos recantos da minha maldade (também ela suficientemente ingénua por não ser nociva), desejo, verdadeiramente, deixar de ser crente, deixar dormir o positivismo e deixar de ser alimento para as aves rapinas, aqueles monstros de bico grande, que fazem bicos para estarem onde estão, e que, com o mesmo bico, picam-nos e lixam-nos, lá de cima. Lá de cima vê-se tudo em tamanho pequeno porquê? Porque realmente os de baixo são mais pequenos.
Com o crescimento que a idade ordena, deveria perceber que andamos todos a subir escadinhas, que os mais espertos vão nas rolantes e os mais burros, aqueles que se esforçam e transpiram, sobem pelas ditas escadas “normais”, chegando, obviamente, depois dos outros.
Mas não aprendo. Aprendi apenas que uns desejam ser bons, mais pacientes, mais tolerantes, mais sensíveis e eu desejo ser cabra. Não me acho um poço de virtudes (quem achar isso de mim morrerá afogado no meu poço), mas sei que não sei dominar no mundo dos maus. E isso é, lá está, mau. Não sei ser a venenosa, a falsa amiga, a chefe autoritária ou, pelo menos, a carteira malandreca que troca a correspondência. E não é que não tenha vontade – tenho pois e isso é um sinal (positivo!) que ainda possa ser má, é que não sei como  fazer a coisa. O remorso, a consciência, (são tão inúteis como as letras pequenitas dos anúncios) lixam-me a vida e atrapalham-me os planos. Uma vez, tentei ficar com o troco, porque o empregado de mesa enganou-se a fazer a conta mas não consegui. Comecei imediatamente a sentir azia e a achar que “era castigo divino”. Conclusão, começo a achar que era uma gaja esperta para governar um banco -passaria a vida “aziada” e a levar água benta para curar o pessoal do branqueamento de capitais.
Como ainda sofro da doença da ingenuidade, quero acabar este desabafo em tom de incentivo aos restantes doentes. Ok, não prestamos para governantes incisivos e cruéis, nem para políticos, professores (que têm de ter um pensamento maquiavélico capaz de transformar o ódio pelos putos em festas do magusto), camionistas (fazem filas enormes sem qualquer remorso e filhas pelas estradas com menos remorso ainda), médicos (choramos demasiado), mas podemos sempre ser o filho fofinho ou o sobrinho favorito. Não serve para nada mas prevalece a esperança de sermos, um dia, o herdeiro eleito da tia-avó e receber a mercearia endividada da velha.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

mais vale cega

A verdade é a maior utopia que já viste.
É a maior mentira que persiste,
quando diz ser possível a verdade existir.

Cresce, dizem-me eles, veste a pele de adulta e luta
para entender de que forma o mundo é feito.
A lua não é de papel, o sol não transmite a quantidade de calor perfeito
e nada condiz como diz.
As coisas não são como vês, são como são,
os teus olhos é que são fracos.
Raro prato raso,
que come, sem noção, aquilo que lhe dão...
Cresce garota, cresce!
O mundo não é redondo para lá cabermos todos!
o mundo é redondo, para que se rodopie e se fique tonto,
incapaz de se perceber.
Topas, garota? Essa sonolência infantil,
pode ser um deslize senil
ou uma incapacidade de reacção -
não sei. Sei que morres tola, morres velha
debaixo da casa que montaste, debaixo da telha
que te abriga da podridão.



domingo, 25 de novembro de 2012

estar comigo


Da vontade exagerada em querer sentir gente, passei a saber saborear o momento em que a gente sente,
que o mundo acabará vazio.
Sabe bem conhecer a solidão, perceber o vazio e senti-lo.
Sabe-me bem ser eu, comigo,
sem estigma, sem preconceito, sem outro amigo,
apenas num mundo criado, sob um bom ou mau bocado,
apenas eu e eu, na bolha de uma conformação.
Não há drama estar só,
dramático é não saber viver na solidão.

Da vontade exagerada em sentir um aperto, apertado,
percebi que não gosto nem do som abafado,
nem do circulo fechado que fazem à minha volta.
É a liberdade que anseio, mesmo que não saia do meu meio
daqui para lado nenhum.
No meu quarto posso ser livre, sem ter passaporte algum,
posso ser eu e eu, comigo,
sem vontade de estar em outro lugar que não seja este -
o meu espaço confinado, a mais outra identidade que não a minha -
ao meu alter ego, à minha sombra, à minha própria companhia.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fernando Pessoa, um bocado teu.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
numa panóplia de sentimentos mistos, cem faces, sem riscos,
uma caixa de pandora que criada outrora,
faz doer hoje - por tanta verdade gasta, numa vasta parte
de se ser um génio.
Deve ser difícil ser alucinante, ser só o marco de um país,
ser mais que a força matriz, de se ser único.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
e nunca os confundiu. Nunca os impediu de serem gente,
mesmo sendo imaginação sua.
Foram mais vivos, mais autênticos, mais seres, que muita gente nula,
que por mais que exista não alucina.
Que dor ser fascina, que falha ser pessoa, sem se nascer Fernando,
sem se ser o operando da língua portuguesa.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
e fez a sua arte saber a pouco. Depois de morto, é que nasceu,
num povo torto que não antes o saboreou.
Apresentaram-te tarde, nunca levantaram o estandarte,
onde te fizeste absoluto.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
numa rua de Lisboa que chamou o Chiado de mau bocado,
onde foi infeliz, pacato, um apenas solto bocado,
duma letra que não te amou. Foste o que foste,
sem alarido e depois de recusado, foste o marido -
de todos os poetas que o poema tocou.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012


Os gays são mais felizes?

Dizem que os gays estão sempre alegres. Não, não é porque saíram do armário ou porque lutam contra as convenções sociais é porque sabem que nunca nada de mal lhes vai acontecer. Os gays são os simpáticos, os fofinhos, os lutadores. Ninguém vai odiar um gay! É a mesma coisa que pisar a relva, não és preso, mas fica mal.

Não acredito que hajam gays políticos assumidos. E Porquê? Porque andam sempre vestidos de preto, certamente porque o preto dá o ar de quão penoso é gerir um país. A camisa rosa-de-rosa, bem florida, fica lá no fundo da mala de viagem, quando forem curtir para as Bahamas com o dinheiro e marido dos outros.

Acho que um gay é mais feliz que um hétero, porque tem mais escolhas. Um hétero não vai à casa de banho da pessoa de quem anda atrás, seria considerado um tarado pervertido. Mas já o gay, vai à mesma casa de banho tendo a possibilidade de conhecer intimamente uma pessoa. O hétero passa aquela fase de constrangimento quando a sua cara de metade se descuida com sons e cheiro mas o gay já vem com pontos de avanço e pode logo arrematar: “Eu ouvi-te na casa de banho. Podes exprimir-te à vontade, já não me assusta”.

É tudo mais fácil para os gays. Um gay não precisa de encaixotar as suas coisas para ir viver com a sua cara-metade. As coisas são as mesmas! Não vai haver dois pares de pantufas cor-de-rosa, duas balanças ou dois urinóis. Além disso, a comunicação flui tão melhor: se ela começa por dizer, “sabes amor, doí-me…”, a namorada acaba facilmente a frase “dorme bem amor, a mim também não me apetece.”

Sempre que vejo um gay a chorar das duas uma, ou picou cebola ou está a chorar de felicidade. Ninguém acredita que os gays ficam tristes. Como será o funeral de um gay? 
"Olha, está a sorrir, não deve ser assim tão mau estar ali. E até parece quentinho”.

Mais do que gays alegres, temos transexuais alegres. Haverá coisa melhor do que ser-se um cereal de fibra, mas saber-se a chocolate? Os transexuais são as pessoas mais compreensivas do mundo, porque são as únicas totalmente verdadeiras quando dizem a um homem ou a uma mulher: sei como te estás a sentir…
Além disso, são as únicas pessoas capazes  de agradar “gregos e troianos”. Se fossem um partido, seriam certamente – um partido simpatizante.

Há aquelas pessoas que têm dificuldade em aceitar a homossexualidade e depois perguntam: Mas tu não sentiste sinais antes de descobrires que eras gay? E dá vontade de responder, sim, eu senti sinais, mas como detesto médicos, não fui à consulta onde o Dr. me ia examinar e definir o diagnóstico “definitivamente gay”, mas coloque estas gotinhas no rabo caso queira que passe.

Heterossexuais, transexuais, homossexuais, há obviamente gente alegre e gente triste. Mas se se sentirem a deprimir, não recorram a comprimidos antidepressivos, olhem antes para o lado, mudem o angulo de visão, e procurem um novo sabor. Ser gay é ser adepto de testes de escolha múltipla: ponho a cruzinha nos dois quadrados, mas não deixo que ninguém decida qual das respostas é a correcta!

domingo, 16 de setembro de 2012

O suficiente

Já percebo porquê que as coisas boas, verdadeiramente especiais, acontecem quando não estamos à espera. Porque se estivéssemos, certamente teríamos tudo planeado: a máscara perfeita, o sorriso composto, o cabelo arranjado, os argumentos refinados. Nada poderia falhar no encontro perfeito com a felicidade, que seria, em pouco tempo, transformada num bolo de hipocrisia.
Agora sento-me na esplanada a mirar quase nada. Não espero que me escondam os olhos, e digam "advinha quem é", porque afinal, já não quero saber. Perdi a curiosidade mesquinha de querer abrir os presentes antes da noite do Natal, agora quero apenas pegar no papel de embrulho e gabar-lhe a cor. Acho que foi assim que apareceste. Num dia banal, nada expectante, sem papel de embrulho e sem sirene, a avisar. Apareceste. Nada de espectacular, nada de evidente, nada que esperasse - e foi o suficiente. Sem alarido, fizeste de uma sexta-feira 13, dia de Natal e fizeste do meu sorriso, o mais bonito. Ele abriu-se, com o tempo, e rasgou-se, sem querer. Não foi forçado, não foi esperado, não foi necessário, mas foi suficiente.

O suficiente para te adorar.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Quero lá saber



Danço, na dança que criei, com um ritmo estranho,
um acorde atrapalhado, um tom que destoa,
um passo mal dado, um vestido que não acentua,
uma musica estranha, que faz o meu corpo, mal feito, fazer a dança,
que me faz suar e rir, numa roda tonta, que na volta, me faz cair,
por ser uma dança, tão fraca de qualidade, que marca magoa a anca,
porque fui apenas eu que a fiz.

E na minha cambalhota louca,
de riso oco e mouco,
oiço o meu coração bater,
num frenesim de quem tem tão pouco a perder,
tão nada a ganhar, numa inconsciência solta,
de que ser-se feliz é só a troca,
do mal pelo bem, do eu, pelo quem?,
do meu mundo, isolado, inventado, malcriado às vezes,
narcisista, de quem faz uma dança só para ela, e que ninguém gosta.

E agora numa confissão secreta,
perguntam-me se me importo:
Quero lá saber a nota correta, ou o conhecer o artista da moda.
Quero é ser eu, feita de batota,
feita de falha, gralha, como aquele que tem dois,
mas só lhe funciona um rim.

Quero ser aposta grossa, dum mal enfeitiçado,
e não uma linda garota,
que tem o nome ali gravado, para o Presidente assinar.
Sou só eu - um maço de grande atrapalhação,
trago o importante, aqui junto ao coração.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não é obrigatório


Muitos precisam de condescendência, para poderem brilhar
agem sem consciência, numa falsa capacidade de ascensão,
obrigados a levantar e a voar na busca do sucesso
quando na verdade são mais felizes no chão. 

Alguém  impôs a obrigatoriedade de brilhantismo,
e todos querem "ser alguém na vida"
ter nascido não faz já de nós alma merecida
de sermos qualquer coisa que não tenha magnetismo?

Numa sem vontade de impressionar,
há que bater ao ego e implorar que cresça -
Há um mundo inteiro que quer aplaudir,
com um sorrateiro e falso gosto de ouvir.

Caí-se no engano de tentar fazer o numero sensacional.
Abracadabra! Faz qualquer coisa e pira-te...
Não há verdade, não há capacidade e não faz mal:
Ser só aquele tipo que mira. 




domingo, 2 de setembro de 2012

Sonhos Transpirados



Quero é escrever poesia antes que me cortem os braços.
Já me tiraram os maços, os amaços, o baço, a alegria,
já me acrescentaram tempo ao tempo que me tiraram
e já me deram um momento, pr´a despedida derradeira.
Quero adormecer sem barulhos de lá ecoados,
e acordar sem os sonhos transpirados
e os braços inchados, chupados pela enfermeira.
Quero voltar-me em lençóis meus e coloridos,
sem serem iguais aos dos outros –
feios e feridos, sem qualquer alma a mais.
Quero que desapareça a cortina que nos separa:
Quero um muro, duro, intransportável, consistente.
Não quero mistura de gente com gente,
quero apenas um quarto sem sobressalto,
sem medo de ao acordar, o ver vazio –
e mais uma cama por ocupar.
Mais um dia de doente que sabe a doentio.
Quero que não falem comigo,
mas que me visitem sempre.
Quero ser calmo e inteligente na mágoa que me calhou,
Mas não ser diligente a aceitar o que me acamou.
Quero abraços grandes, depois e antes
de sair daqui. Não quero mais sorrisos forçados,
nem coros ensaiados com o dizer sensacional.
Quero apenas sabores, comidas com cores
E tudo para que acorde e veja um dia normal.












segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Faz de conta que sabes o meu nome. Faz de conta que sentes a minha falta. Faz de conta que pensas em mim. Faz de conta que me reencontras. Faz de conta e finge bem, finge tão bem que eu vou fazer conta de que acredito, que gostas de mim.
Faz de conta e faz novamente a farsa até eu ficar saturada com tanta dedicação. Faz, finge e disfarça, e nunca acuses a teatralidade madrasta, porque eu subtilmente enganada, sou boa a fingir-me amada.
Faz de conta só hoje, que amanhã acordo de novo e não me importo com a realidade se hoje, sentir o gozo. Faz de conta só hoje, que amanhã o momento é menos perfeito e é agora que sinto que o tempo é mais justo e mimoso. Quero - te hoje, é que amanhã não sei, se esta falsidade que te peço, deixa de ser necessária - é que todo o louco exige amor, até perceber que vive bem com a dor.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Quando me apontaste o dedo na rua


Quando me apontaste o dedo na rua

Quando me apontaste o dedo na rua,
Não entendeste que me acertaste.
Não é que a minha vida seja tua,
nem que mereças que seja eu a justificar-te.

Mas quando me apontaste o dedo na rua,
a ferida que ainda sangra, rebentou.
E não fui eu, não foi ela que se descoseu,
foi o teu dedo manhoso que a ficcionou e a rompeu.

Quando me apontaste o dedo na rua,
os meus olhos cobriram-se de lágrimas.
Não por ti (que nem te conheço)
Mas porque no momento, não virei a página
e não impus o lugar que eu mereço.

terça-feira, 5 de junho de 2012

És protagonista temporária da tua história, sabias disso?



Estiveste demasiado tempo no meu imaginário. Estiveste presente, mesmo antes de eu estar, como se soubesses que eu estava à tua espera.
E quando eu, de bicos dos pés, beijava o espelho, deixando-o embaciando, e  ria com a parvoíce de treinar o beijo, sabia, mesmo com os meus sete anos de tenra estupidez, que tu haverias de aparecer. 
Sabia que te iria reconhecer. Terias o olhar preso no meu, verias alguma coisa especial em mim e fazer-me-ias corar.  Ias-me ascender ao teu mundo, criar-me um pedestal, e tornar-me-ias única. E isso aconteceu.
Eu acreditei que tinha poderes mágicos. Pensei que era  a mais bonita da cidade, do país, da europa, do teu mundo. Até acreditei que o teu remédio, seria um riso meu. Achei-me demais, e gostei. Achei-me tanto, que acabei por me perder, numa perfeição ilusória, de que nos pinta um apaixonado. Achei que sabia tudo, sobre tudo, e que o meu controle sobre o futuro era notório. Era uma parola contente, meio louca, meio demente, e com nenhuma sobriedade. Era perfeita.  
Reconheci-te, na flor da idade, e marquei-te como o meu amor único. Ascendi ao teu mundo e tornei-o meu. Agarrei nos teus sonhos, e pintei-os com a minha cor favorita. Reconheci-te, sem dúvidas, sem medos, com o meu amor único. Era uma sonhadora real. Um ser crente. E tu eras o pónei azul, que qualquer criança quer ter.

Vivi o que sabia que iria viver. Estava-me destinado há muito tempo. Só não sabia, ou não tomei atenção enquanto me liam a história, que os sonhos são emprestados. Há um dia, um dia ao acaso, que tens de devolver o que te prometeram. És protagonista temporária da tua história, sabias disso? Há um dia, que vem alguém e te substitui, te destrona, de interrompe, e te tira desse pedestal. E isso também aconteceu.
Já não subo, de picos de pés, ao meu armário e beijo o espelho, mas ainda suspiro em alguns cantos e ainda espero que me coloquem num pedestal e me tornem rainha.   
Espero não ficar demasiado tempo sentada na escada fria. Além disso, tenho medo do escuro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

estou cansada amor

Tu dizes que és céptico. Concreto. Físico. Real. Máquina.
Então explica-me o que sentes quando olhas para mim.
Tu dizes que és frio. Forte. Resistente. Intocável.
Então diz -me que outro nome dás quando me sentes ausente?

Que outros nomes, que outros verbos, que outros credos que não crês,
te podem fazer entender isto?
Não sei como te explicar as coisas, muito menos as que oiças, para te dizer que te adoro,
mas mais duro é não ver que me adoras a mim.
Não quero ter que te pegar na mão e colocá-la aqui, junto do meu tenro peito, para que o sintas palpitar.
Quero que o vejas daí, que o queiras acalmar sem eu ter de chamar por ti..
Estou cansada amor. Estou cansada de não ver. Podes trazer uma lupa, fazer-te crer?
Estou perto de ti. Sinto o teu cheiro - não passes escondido, nem só a meio tempo. Eu estou mais próxima do que imaginas

sábado, 24 de março de 2012

Serás?

Às vezes parece que as coisas nunca vão mudar.
São o que são, porque são, sem explicação e não passam daquele mudismo barulhento -
aquele que diz, que em avanço lento, tudo o que existe desaparecerá - 
sem nos podermos ter engrandecido, morreremos sem verdadeiramente termos existido. 
Mas depois aparece um som. Parece uma gargalhada? Um coração farto? Uma cara bem encarada?
um gracejo, será? um olhar mais forte, com abraço mole, um riso com sorte,
que se estende a mim? serei eu, lá longe, em miragem alucinante, ou serás tu, a corte,
o cavaleiro mirante?
Esfrego os olhos, meio ensonados, será cansaço, fruto dos trabalhos, ou serás tu, sonho mais amalucados?
Quero rir disso e desconfiar. Desconfio, desacredito, porque custa acreditar.
Serás tu fonte da minha vontade incrivel de querer viver isto?
Espero que não sejas um desejo, nem um anseio, nem a vontade só de um beijo,
espero que sejas o sinónimo, o lugar, a certeza, a música certa.
Não sei porque me sinto ligada a ti. Mas sinto que já existias antes de te conhecer.

sábado, 17 de março de 2012

Meu amor, meu amor

Ainda dizem que não existem heróis. De espada e cinto, e de fato sensacional, não, não os há.
De braço forte, com poder anti-morte, de artilharia pesada,
com resistência contra o mal, esses, não, nunca os haverá.
Mas de corpo flácido, de boca pequena, de riso fácil,
de paciência infinita, de jeito adorável, de bondade pura,
de quem trabalha na vida dura, e come a seco a sua marmita,
de quem engelha as rugas tantas, e dói as costas e amanhã se levanta.
Esse eu conheço. De quem ama sem grandes alaridos,
ama quando dança, quando ralha, quando descansa - e não cansa de ser O Pai.
Esse eu conheço. De quem me orgulha, de quem me enche, de quem me existe
e me faz triste, por envelhecer.
De quem se imortaliza e minimiza quando tem de ser.
Esse eu conheço. Sabem o que é fantástico? Ele vive comigo, e eu sou um bocado dele.

Para o meu pai

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terça-feira, 13 de março de 2012


Desenho a linha do teu rosto com os meus olhos fixos em ti.
Falas, despreocupado, quase desamparado nesse desabafo banal,
e eu fixo-te os movimentos, e conto os momentos em que falhas: exatamente nenhuns.
E numa ingenuidade avassaladora, trocas e tropeças e falas por falar.
e eu escuto, julgo e interiorizo e nunca, mas nunca me farto de ti.
Ainda dizem que não existe perfeição. Claro que ninguém a vê,
afinal habita toda na tua mão.

Achas que exagero. Eu sei que achas que exagero. Eu faço-o de forma consciente.
faço-te para te aumentar - faço-o porque quero 
e sei lá eu o que mais te posso dizer
nada mais acrescenta o que já há pois não?
nada mais, sabe a pouco, nada mais, sabe a soco - da ferida que fazes em não existir.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Fujam

O amor é uma merda. Por isso é que as pessoas emagrecem quando acabam as relações - por culpa dos nervos e realmente, esse aspecto é a única razão válida para se passar por uma separação. Aliás, acho que toda a mulher devia "dar um tempo" de 6 em 6 meses e aconselho que o façam na altura pré-balnear. Eu já terminei algumas relações e incrivelmente não estou mais magra, certamente porque não sofri o suficiente por elas. Bolas! Alguém pode dar-me cabo do coração por favor? Estava mesmo a precisar.

Mas depois existem as mães deles. As mães que nos adoram e que nós não conseguimos deixar. Aliás, nos últimos tempos já não visitávamos o namorado - íamos só lanchar com a pseudo sogra. E o que fazer para conseguirmos acabar com a nossa sogrinha de estimação? Fazemos a única coisa correcta - somos mal educadas no último encontro. Exactamente. Meninas, façam cara feia a beber o chá, digam que o pão é insonso e dêem a machadada final corrigindo-na quando estiver a contar uma história. 

Mas a vida não é assim tão perfeita. Há sempre aquele drama -  quando a besta do nosso o ex, que por sinal ainda não percebeu a utilidade do armário, tem o Nosso casaco (aquele que assenta bem e foi uma pechincha) no seu quarto.

Situação: Batemos à porta e ele não está. Quem abre a porta? A sogra (não se esqueçam, nesta fase vocês já são cabras). Criticaram o chá, o pão e explicaram-lhe (à frente da vizinha) que o 25 de Abril não foi em Novembro, por isso não tenham grande esperança: a extremosa dona de casa, arranjou maneira de :
- Ups querida, tingi o teu casaco sem querer. 

Queridas e queridos não se deixem apanhar por esses malfeitores de cupidos de sangue.  Se o amor fosse bom, a Adele já o tinha dito.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

como te é indiferente

Os dedos gelam, o pescoço está dorido e a voz sai ofegante
Nada que não tenha querido, nada que seja menos que marcante
numa causa e efeito desconcertante de quem gela e asfixia
porque lá está, mesmo que em pouco desejaria,
não há como não ser de forma menos violenta: amar-te amo,
mas d´alma sai ferida, um caso de alma perdida,
Porque me sai do coro, do soro, do todo meu atrofiado corpo.
Aleijas-me amor, aleijas-me mesmo que só te ouvindo,
Porque fazes falta mesmo que só me sorrindo me dês dessa magia tua.
E neste Inverno doloroso, é pouco dizer que sofro,
Quando a arder te sonho e a suar te desejo,
porque neste inverno rigoroso, mais não sou que uns lábios secos,
umas mãos duras, uns músculos lentos, uns olhos inchados,
uns membros perros, uns ouvidos maltratados,
deste frio de Inverno que me magoa, porque chicoteia a outrora dor,
de te saber longe de mim, noutro Inverno estás, que não aqui,
Noutro mundo és que não este,
Noutro coração habitas, que não o meu,
Outro nome sabes porque o que trago te é tão indiferente como a fogueira é ao meu irrequieto e estaladiço dente.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As gajas sentem as coisas. Aquela brincadeira de que elas advinham o que vai acontecer? é verdade. Não, não falamos de insanidade, não daquela total, falamos apenas de sermos mais espertas de que vocês - homens igualmente insanos mas que por sua vez são estúpidos. 
Querem saber como advínhamos as coisas? Porque vocês simplesmente nos dizem. Fazem questão de mostrar tudinho, sobretudo essa inconstante vontade de ser qualquer coisa mais do que um par de tomates. E esforçam-se. Sim, esforçam-se para serem pessoas decentes, mas depois, há aquela cobardia que vos é maior e todas as vossas tentativas vão pelo cano abaixo. Mas nos gostamos de vocês. Adoramos homens. Sabem porquê? porque adoramos governar. Adoramos ter o controlo, adoramos ter razão, adoramos que vocês falhem e que sejamos nós, com o nosso olhar de gaja contente, a mostrar que erraram - outra e outra vez simplesmente porque sim. E depois choramos. Choramos porque o nosso projecto falhou, porque os vossos erros tornaram-se insuportáveis, mas logo nos enchemos de ego e arranjamos um novo projecto para moldar. E vocês, choram 2 meses depois, porque a vossa mentora desisiu de vos mostrar o caminho certo... e quando começam a dar os passinhos sozinhos, agarrados à mobília, meio toscos e mijadinhos na cueca, sabem o que acontece? Puff...ela já não lá está para bater palminhas. 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Cala-te besta, não vês que estás a falar demais?
Fala baixo anormal, não vês que te estão todos a ouvir?
Psiu palerma, não vês que estão a olhar para ti?
Pára maluca, não vês que estás a fazer figuras tristes?

Desculpa, não fazia ideia que tinhas entrado naquele programa de TV... sim, sim és tu nesta fotografia, não te reconheci... ah... claro que sei quem é o teu pai, toda a gente o conhece!

Aahah querida, todos adoram o que tu dizes!
Aahah comediante, calaram-se só para te ouvir!
AAHAH minha linda, estão a fixar-te porque te admiram!
Ahaha princesa, estás a dar um show!