terça-feira, 5 de junho de 2012

És protagonista temporária da tua história, sabias disso?



Estiveste demasiado tempo no meu imaginário. Estiveste presente, mesmo antes de eu estar, como se soubesses que eu estava à tua espera.
E quando eu, de bicos dos pés, beijava o espelho, deixando-o embaciando, e  ria com a parvoíce de treinar o beijo, sabia, mesmo com os meus sete anos de tenra estupidez, que tu haverias de aparecer. 
Sabia que te iria reconhecer. Terias o olhar preso no meu, verias alguma coisa especial em mim e fazer-me-ias corar.  Ias-me ascender ao teu mundo, criar-me um pedestal, e tornar-me-ias única. E isso aconteceu.
Eu acreditei que tinha poderes mágicos. Pensei que era  a mais bonita da cidade, do país, da europa, do teu mundo. Até acreditei que o teu remédio, seria um riso meu. Achei-me demais, e gostei. Achei-me tanto, que acabei por me perder, numa perfeição ilusória, de que nos pinta um apaixonado. Achei que sabia tudo, sobre tudo, e que o meu controle sobre o futuro era notório. Era uma parola contente, meio louca, meio demente, e com nenhuma sobriedade. Era perfeita.  
Reconheci-te, na flor da idade, e marquei-te como o meu amor único. Ascendi ao teu mundo e tornei-o meu. Agarrei nos teus sonhos, e pintei-os com a minha cor favorita. Reconheci-te, sem dúvidas, sem medos, com o meu amor único. Era uma sonhadora real. Um ser crente. E tu eras o pónei azul, que qualquer criança quer ter.

Vivi o que sabia que iria viver. Estava-me destinado há muito tempo. Só não sabia, ou não tomei atenção enquanto me liam a história, que os sonhos são emprestados. Há um dia, um dia ao acaso, que tens de devolver o que te prometeram. És protagonista temporária da tua história, sabias disso? Há um dia, que vem alguém e te substitui, te destrona, de interrompe, e te tira desse pedestal. E isso também aconteceu.
Já não subo, de picos de pés, ao meu armário e beijo o espelho, mas ainda suspiro em alguns cantos e ainda espero que me coloquem num pedestal e me tornem rainha.   
Espero não ficar demasiado tempo sentada na escada fria. Além disso, tenho medo do escuro.

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