domingo, 25 de novembro de 2012

estar comigo


Da vontade exagerada em querer sentir gente, passei a saber saborear o momento em que a gente sente,
que o mundo acabará vazio.
Sabe bem conhecer a solidão, perceber o vazio e senti-lo.
Sabe-me bem ser eu, comigo,
sem estigma, sem preconceito, sem outro amigo,
apenas num mundo criado, sob um bom ou mau bocado,
apenas eu e eu, na bolha de uma conformação.
Não há drama estar só,
dramático é não saber viver na solidão.

Da vontade exagerada em sentir um aperto, apertado,
percebi que não gosto nem do som abafado,
nem do circulo fechado que fazem à minha volta.
É a liberdade que anseio, mesmo que não saia do meu meio
daqui para lado nenhum.
No meu quarto posso ser livre, sem ter passaporte algum,
posso ser eu e eu, comigo,
sem vontade de estar em outro lugar que não seja este -
o meu espaço confinado, a mais outra identidade que não a minha -
ao meu alter ego, à minha sombra, à minha própria companhia.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fernando Pessoa, um bocado teu.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
numa panóplia de sentimentos mistos, cem faces, sem riscos,
uma caixa de pandora que criada outrora,
faz doer hoje - por tanta verdade gasta, numa vasta parte
de se ser um génio.
Deve ser difícil ser alucinante, ser só o marco de um país,
ser mais que a força matriz, de se ser único.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
e nunca os confundiu. Nunca os impediu de serem gente,
mesmo sendo imaginação sua.
Foram mais vivos, mais autênticos, mais seres, que muita gente nula,
que por mais que exista não alucina.
Que dor ser fascina, que falha ser pessoa, sem se nascer Fernando,
sem se ser o operando da língua portuguesa.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
e fez a sua arte saber a pouco. Depois de morto, é que nasceu,
num povo torto que não antes o saboreou.
Apresentaram-te tarde, nunca levantaram o estandarte,
onde te fizeste absoluto.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
numa rua de Lisboa que chamou o Chiado de mau bocado,
onde foi infeliz, pacato, um apenas solto bocado,
duma letra que não te amou. Foste o que foste,
sem alarido e depois de recusado, foste o marido -
de todos os poetas que o poema tocou.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012


Os gays são mais felizes?

Dizem que os gays estão sempre alegres. Não, não é porque saíram do armário ou porque lutam contra as convenções sociais é porque sabem que nunca nada de mal lhes vai acontecer. Os gays são os simpáticos, os fofinhos, os lutadores. Ninguém vai odiar um gay! É a mesma coisa que pisar a relva, não és preso, mas fica mal.

Não acredito que hajam gays políticos assumidos. E Porquê? Porque andam sempre vestidos de preto, certamente porque o preto dá o ar de quão penoso é gerir um país. A camisa rosa-de-rosa, bem florida, fica lá no fundo da mala de viagem, quando forem curtir para as Bahamas com o dinheiro e marido dos outros.

Acho que um gay é mais feliz que um hétero, porque tem mais escolhas. Um hétero não vai à casa de banho da pessoa de quem anda atrás, seria considerado um tarado pervertido. Mas já o gay, vai à mesma casa de banho tendo a possibilidade de conhecer intimamente uma pessoa. O hétero passa aquela fase de constrangimento quando a sua cara de metade se descuida com sons e cheiro mas o gay já vem com pontos de avanço e pode logo arrematar: “Eu ouvi-te na casa de banho. Podes exprimir-te à vontade, já não me assusta”.

É tudo mais fácil para os gays. Um gay não precisa de encaixotar as suas coisas para ir viver com a sua cara-metade. As coisas são as mesmas! Não vai haver dois pares de pantufas cor-de-rosa, duas balanças ou dois urinóis. Além disso, a comunicação flui tão melhor: se ela começa por dizer, “sabes amor, doí-me…”, a namorada acaba facilmente a frase “dorme bem amor, a mim também não me apetece.”

Sempre que vejo um gay a chorar das duas uma, ou picou cebola ou está a chorar de felicidade. Ninguém acredita que os gays ficam tristes. Como será o funeral de um gay? 
"Olha, está a sorrir, não deve ser assim tão mau estar ali. E até parece quentinho”.

Mais do que gays alegres, temos transexuais alegres. Haverá coisa melhor do que ser-se um cereal de fibra, mas saber-se a chocolate? Os transexuais são as pessoas mais compreensivas do mundo, porque são as únicas totalmente verdadeiras quando dizem a um homem ou a uma mulher: sei como te estás a sentir…
Além disso, são as únicas pessoas capazes  de agradar “gregos e troianos”. Se fossem um partido, seriam certamente – um partido simpatizante.

Há aquelas pessoas que têm dificuldade em aceitar a homossexualidade e depois perguntam: Mas tu não sentiste sinais antes de descobrires que eras gay? E dá vontade de responder, sim, eu senti sinais, mas como detesto médicos, não fui à consulta onde o Dr. me ia examinar e definir o diagnóstico “definitivamente gay”, mas coloque estas gotinhas no rabo caso queira que passe.

Heterossexuais, transexuais, homossexuais, há obviamente gente alegre e gente triste. Mas se se sentirem a deprimir, não recorram a comprimidos antidepressivos, olhem antes para o lado, mudem o angulo de visão, e procurem um novo sabor. Ser gay é ser adepto de testes de escolha múltipla: ponho a cruzinha nos dois quadrados, mas não deixo que ninguém decida qual das respostas é a correcta!