terça-feira, 13 de novembro de 2012

Fernando Pessoa, um bocado teu.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
numa panóplia de sentimentos mistos, cem faces, sem riscos,
uma caixa de pandora que criada outrora,
faz doer hoje - por tanta verdade gasta, numa vasta parte
de se ser um génio.
Deve ser difícil ser alucinante, ser só o marco de um país,
ser mais que a força matriz, de se ser único.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
e nunca os confundiu. Nunca os impediu de serem gente,
mesmo sendo imaginação sua.
Foram mais vivos, mais autênticos, mais seres, que muita gente nula,
que por mais que exista não alucina.
Que dor ser fascina, que falha ser pessoa, sem se nascer Fernando,
sem se ser o operando da língua portuguesa.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
e fez a sua arte saber a pouco. Depois de morto, é que nasceu,
num povo torto que não antes o saboreou.
Apresentaram-te tarde, nunca levantaram o estandarte,
onde te fizeste absoluto.

Pessoa criou três seus, dentro dele, para fora dele,
numa rua de Lisboa que chamou o Chiado de mau bocado,
onde foi infeliz, pacato, um apenas solto bocado,
duma letra que não te amou. Foste o que foste,
sem alarido e depois de recusado, foste o marido -
de todos os poetas que o poema tocou.

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