terça-feira, 16 de agosto de 2011

TPM - Tem Paciência e atura-me Má!

Estou farta de nutricionistas. Não daqueles que dizem para comer uma colherzinha de café de qualquer coisa que saiba a comida de pássaro, mas nutricionistas orais. Não conhecem este termo? Pois é muito corrente no meu vocabulário e é uma profissão muito em voga. Nutricionistas orais são aquelas pessoas que falam sempre acertado, que comem (lá está) as palavras erradas e articulam, muito devagar, teorias sensacionais sobre como é esta palhaçada a que chamamos rotina. São pessoas que não dizem merda, mas "cheira a pum" e que não comem atum enlatado porque não usam moedas de 50 cêntimos - que é quanto custa a comideca de pobreco.
E o pior desta gente é que estão sempre felizes. E não há quem ature gente feliz. Gente bem sucedida, gente bem amada, gente rica, e com filhos lindos e igualmente felizes. Que ciclo de mete nojo. Sempre que me cruzo com nutricionistas orais, sinto-me mais gorda. É impensável que estas mulheres que falam bem, andam bem, comem bem, tenham 50 anos e pernas melhores que as minhas. E ainda por cima estão sempre tão felizes! Decerto não apanham 3 metros, perderam outros 3, andaram de comboio, perderam o barco, esperaram pelo táxi e chegaram a casa a tempo de fazer o jantar. 
Que mania que as gajas têm de escreverem sobre nada quando estão mal humoradas e, de ainda por cima, esse nada ser sobre a futilidade de sentir inveja. É feio, fica mal, é proibido, mas não há quem não inveje. Eu invejo a comida do outro ao lado sempre que acabo de me servir, invejo as pernas que passam, invejo ver uma publicidade engraçada e não ter sido eu a inventá-la (e era tão simples!!). E invejo as gajas que não sofrem de tensão pré menstrual, que existe, é real e eu tenho-a todinha. E parem de dizer que "nasceram assim, perfeitas, porque é hereditário". Espero que tenham cáries nesse sorriso lindo que me mandam.
E por hoje é tudo. Uma mão cheia de mau humor que vai ter consequências graves - chocolate e coca-cola toda a noite. Quero lá saber, o interior é que conta - o do pote do chocolate claro, porque é lá no interior que está a maior quantidade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Finge


Cala a boca ao jantar.
Endireita-te. Mastiga com pausa,
Bebe sem parar, mas nunca digas a causa,
Da dormência desse ar.

Dorme para o lado que não gostas.
Finge ler a bíblia sagrada!
Enfatiza a dor nas costas,
Mas nunca afies a espada,
Que guardas, debaixo da almofada,
Onde o teu bebe dorme.

Vê-te ao espelho, aprumado,
Ensaia o discurso ensaiado
E suspira três vezes ou por todos os meses,
Que não dizes a verdade.

Alista-te no exército que te condena,
O que te aplaude na cena
Em que cais de cabeça, no cais abandonado.
Não peças socorro. Não abanes a bandeira,
É que o teu amigo, dá-se com o inimigo,
E agem no fundo, da mesma maneira.

Diz que amas a tua mulher, mesmo que não a conheças.
Cumprimenta o vizinho, não tens educação?
Anda leve, agradece o ninho,
Mesmo que não mereças, aninha a condenação.

Tira mais fotografias e deixa que os outros vejam,
sorri em todas. Inventa alegrias.
Cria legendas, para aumentar a percepção.
Critica a suposta inveja que te têm,
mas lá dentro lamenta,
que não te resgatem.
que não te captem.
que não te soltem.






O fenómeno ali! Adondi?

Anda aí um novo fenómeno no youtube. Chama-se Maddi Jane é uma miúda de 12 anos e parece que é o novo talento mundial. Toda a gente fala e escreve sobre isso, e eu faço-o agora também. Não, não tenho nadinha a acrescentar mas queria a vossa atenção. Portanto, comecei assim, com assuntos comuns e tal.
Estabelecida esta relação inicial - escrever sobre coisas de interesse do público - volto ao meu egocentrismo que tanto gosto me dá. Por isso é que pessoas como eu têm um blogue, para serem Sóóó elas a comentar como se Sóóó elas tivessem acesso a esse grande jornal chamado wikipédia. E depois vocês pensam: Ah mas nós podemos comentar o que tu dizes, oh palerma!! AHAHA, respondo eu, por acaso vocês vêem comentários no meu blogue?? Tomem, falo sozinha! Ok, essa reflexão foi triste. Egocêntrica feia e triste.
Espero ter esclarecido que de facto, eu tenho centenas de comentários, mas apago-os todos, porque não quero que outros blogs fiquem tristes por não terem visitas. Adiante, esta coisa de sentirmos o poder na mão com pequenos gestos, é algo que dá que pensar.
Por exemplo, os médicos. Imagino-os sempre, sentados na sua cadeira giratória, com aquele ar completamente comprometido, a dizerem: "Se Eu não descobrir o que tem, hum, duvido que alguém o faça". "E, e, e sabe o que eu tenho doutor!???" "Sei. Mas não vou dizer. Vou deixar que o seu médico de família descubra, porque a vida dele no centro de saúde é menos interessante que a minha..."
E prontosss, daqui nasce o tal poder.  E os presidentes da Câmara? São os reis do egocentrismo: "Muito bem, vou cortar a fita, para vos mostrar a mInha Junta onde Eu vou ser presidente porque Eu ganhei as eleições". " E vai deixar a fotografia na parede do antigo presidente?", "Naturalmente que não! Eu prometi poupar nos gastos e é isso que vou fazer! Vou usar a moldura da foto dele para colocar a minha!".
Mas não posso, não posso deixar morrer o assunto (que na verdade já morreu, já foi enterrado e já está na missa do 7º dia), sem falar dos electricístas. Meu deus, alguém lhes diz que o "quadro eléctrico morreu" não é a mesma coisa do que dizer "lamento, mas a senhora tem apenas 6 meses de vida?". E lá vão eles, com o lápis atrás da orelha, dar a triste notícia à família que se encontra reunida em prantos. Sem forças, a mãe pergunta, com pesar: "E pode-nos dizer a causa?", e ele, com dor responde, "Foi um fusível, minha senhora, foi um fusível.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Inglaterra Vs Síria (podia ser um jogo de futebol, mas não é)

Andam a matar-se em Inglaterra. Aliás, na Síria também, mas parece que choca mais ver os loiros sardentos a gritar contra a anarquia, do que os manifestantes da Síria a aclamar pela democracia.
Porque o ser humano é assim - arrepia-lhe a pele, as situações dramáticas que atingem pessoas com o qual se identifica. É a lei da proximidade, certo senhores jornalistas? Mas nós portugueses devíamos estar mais tocados com drama da Síria, afinal estamos mais perto da repressão e do drama social que atinge milhares, do que do sofrimento londrino.
Estamos igualmente um caos, a diferença, é que em Londres estão a destruir as lojas daquelas pessoas que lá vivem e lá trabalham e a nós, estariam a destruir as lojas dos outros, que é como quem diz, as lojas dos chineses. Além disso, na Síria os refugiados vivem em condições miseráveis, e em Portugal, refugiamo-nos nas nossas condições miseráveis para não lutar pela Democracia (o que dá um ponto à Síria e zero a Portugal).
Seja como o for, a guerra está pronta a continuar e acho que os nossos pequenos sargentos têm tudo para dirigir a causa. Não falo dos homens que fizeram a tropa, mas dos putos, os filhos dos pais que alimentam a tropa. Aqueles que passam a vida a brincar com os jogos de estratégia militar: Coordenam, matam, espiam, ganham pontos, e depois de manhãzinha,  quando têm de dar de comer ao cão, eis que o verdadeiro conflito aparece - Mãe!!!Não sei fazer isto sozinho. Tens alguma Ruger Super Warhawk para o matar? Já é velho e é mais fácil... (Ok, confesso, não sei nome de armas e quis dar uma de sabe-tudo. Copiei esse, porque me pareceu imponente. Saltem à frente e leiam somente arma).
Sabem o que era giro? Era que a escola não fosse obrigatória. Exactamente, chamem-me ignorante e ridícula,  mas gostava de ver, perguntarem aos nossos miúdos: "Queres fazer a composição ou ir trabalhar para uma fábrica? Erro. A fábrica tem armas cortantes, como máquinas para cortar madeira, seria mais atraente.
Bom, vou ligar a televisão e ver um CSI altamente cheio de emoções, para ver se consigo perceber a história do pêlo amarelo grisalho (uuuuu) que encontrei na minha carpete.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sonhos transpirados



Quero é escrever poesia antes que me cortem os braços.
Já me tiraram os maços, os amaços, o baço, a alegria,
já me acrescentaram tempo ao tempo que me tiraram
e já me deram um momento, pr´a despedida derradeira.
Quero adormecer sem barulhos de lá ecoados,
E acordar sem os sonhos transpirados
e os braços inchados, chupados pela enfermeira.
Quero voltar-me em lençóis meus e coloridos,
sem serem iguais aos dos outros –
Feios e feridos, sem qualquer alma a mais.
Quero que desapareça a cortina que nos separa:
Quero um muro, duro, intransportável, consistente.
Não quero mistura de gente com gente,
Quero apenas um quarto sem sobressalto,
sem medo de ao acordar, o ver vazio –
e mais uma cama por ocupar.
Mais um dia de doente que sabe a doentio.
Quero que não falem comigo,
mas que me visitem sempre.
Quero ser calmo e inteligente na mágoa que me calhou,
Mas não ser diligente a aceitar o que me acamou.
Quero abraços grandes, depois e antes
de sair daqui. Não quero mais sorrisos forçados,
nem coros ensaiados com o dizer sensacional.
Quero apenas sabores, comidas com cores
E tudo para que acorde e veja um dia normal. 

Marine Antunes

domingo, 7 de agosto de 2011

Diário de uma quase STAR _ 7 de Agosto

Querido Diário: Hoje fui ao Zoo. O-D-I-E-I! 
Ando eu nesta vida de fazer pose durante horas, besuntar-me com óleos sexys, piscar o olho a torto e a direito, fazer beicinho para as fotos, de tal forma, que os lábios já se pegaram, e os turistas ricos querem tirar fotos com os macacos?! Fazem exactamente o que eu faço, pousam, comem, exibem-se, mas a diferença é que são peludos. Ah, e caçam os piolhos e comem-nos - nós caçamos os macacos do sótão e comemo-los. Diferente.
Bom, no entanto, fui também ao espectáculo dos golfinhos e não percebi a emoção das pessoas a baterem palmas ao bicho, só porque ele dava piruetas no ar e dizia adeus. O meu tareco também salta do sofá para o chão e não vejo ninguém a fazer-lhe a onda ... é o problemas das cunhas. Desde que os golfinhos tiveram a baleia-prima Willy na televisão, acham-se donos do mundo e da ribalta e o que me enerva é que não há ninguém a falar sobre isto! Enfim, por isso é que eu, quase Star, merecia um lugarzinho numa revista qualquer a debater estes assuntos. Hoje são as baleias e os golfinhos a dominar a fama, amanhã são os elefantes a dominar os reality shows. Os animais também acasalam em directo para todos, sem se importarem que o público os veja.
Outra coisa que me fez espécie foi ver escrito em todo o lado "Ajude os animais a não se extinguirem". Oh queridos, eu até sou boa moça e até já pedi pelos santos, mas não me peçam para me envolver com um rinoceronte ou com uma girafa só para salvar o Mundo. Podem-me chamar nomes, mas eu sou selectiva!Além disso o rinoceronte já tem cornos que chegue, não precisa de outra cabra a estragar-lhe a vida.
Por hoje é tudo! Beijos com serpentinas!
  

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Diário de uma quase STAR _ 5 de Agosto

Querido Diário. Estou muito excitada. Ontem ganhei 3 amostras grátis do mesmo shampoo que a Paris Hilton usa. O problema é que ela é loira e eu sou morena, mas já alterei esse pequeno obstáculo e fui pintar o cabelo de loiro. Agora é só colocar, enxaguar e fazer pose! 
Eu adoro a Paris Hilton, no entanto, sei que nunca vou ser como ela. Ela fez um filme pornográfico e colocou-o na internet! Obviamente que eu sou incapaz de fazer isso! ... É que não sei colocar vídeos no youtube. Não faz mal, não há problema nenhum, porque sei que vou realizar o meu sonho à mesma. Este Verão, já comecei a traçar esse caminho, imitando as pessoas conhecidas. Cá vai:
Sítios obrigatórios a ir: Praia e festas em discotecas;
O que usar na praia: Biquíni brasileiro, 300 pulseiras, flor no cabelo, anéis, colar, óculos de sol (o único problema foi quando me afoguei no mar - com o peso da vestimenta).
O que levar para a praia: Um livro (segundo problema, não tinha nenhum, por isso levei o único que encontrei - o livro de receitas da minha mãe).
Agora, espero ansiosa, agarrada ao livro de 100 receitas de comida chinesa, que algum fotógrafo me apanhe muito desprevenida. Além de estar linda, vou parecer super culta com este livro e até sei dizer duas palavras em chinês: Restaurante Chinês.
Esta noite, tenho que encontrar algum jogador de futebol pelos lados do Algarve, para ver se simulo um divórciozeco qualquer. Só espero que não me pergunte nada de clubes de futebol, que disso, a única coisa que sei é que o Presidente das República que se chama Pinto da Costa, é dono do Futebol Clube do Porto. E que o José Mourinho tem um irmão gémeo que se chama Number One. 
Adeus Diário, até breve!


   

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Diário de uma quase STAR

Este é o diário de uma quase Star. Uma adolescente bonita, com desejo de vincar na vida e que rapidamente percebeu a sua enorme inutilidade. Acredita no seu bom par de mamas e o seu sonho é casar-se e divorciar-se 5 vezes. Como fazem as estrelas. 

Tomem atenção porque isto é exclusivo e totalmente verdade: O Cristiano Ronaldo mandou-me uma mensagem de amor. É verdade, juro que somos amigos, aliás, até me dou bastante bem com a senhora sua mãe e já emprestei roupa às pobrezitas das irmãs, que coitadas não têm gosto nenhum. Ele está doido por mim! Já mandou três mensagens e disse a um colega meu, que é primo de um amigo dele, que me "acha boa". E toda a gente sabe que vindo da boca do Ronaldo, significa que vou andar de iate. Bolas, tenho de comprar chapéus para a dona Dolores gostar de mim.
A minha família está muito orgulhosa e o sonho da minha mãe é que eu apareça na capa da TV7 dias. A minha avó só chora porque diz que somos todas umas porcas. Não faz mal, porque o escândalo da velha deu duas páginas e meia de revista. Fomos ao cabeleireiro, eu e a minha mãe, e pintámo-nos muito, porque a minha mãe disse que se os olhos tivessem carregados de pintura preta, ao chorarmos, era mais chocante.
Agora o meu sonho, depois de casar com o Cricri, é ser actriz. Quero ser artista e aparecer na televisão para depois ir à entrevista da Alta Definição. Aliás, já sei o que vou dizer quando for entrevistada:
Daniel: O que dizem os seus olhos?
Eu: Que o mundo tem de ser melhor!
Até me emociono a pensar em como sou inteligente. A minha mãe diz que saio toda ao lado dela, porque os primos do meu pai são burros que nem uma porta. Uma vez, ganharam uma televisão numa rifa e doaram-na a um vizinho deficiente. A minha mãe esteve dois anos sem falar para eles, porque, diz ela, deficiente é quem dá.
Bom, agora vou fazer uma tatuagem no braço com o nome do Cricri e desenhar roupas. Todas as artistas desenham roupas. Espero ansiosa por outra mensagem do meu amor, enquanto decoro a música "Obrigado mano" para fazer um brilharete na família!


Andam a chover pássaros mortos


Andam a chover pássaros mortos. Antes rezava-se para que não nos caísse cócó de pombo na cabeça,  agora pede-se que não nos caiam animais mortos do céu. Que não sejam cegonhas, que essas são pesadas. E ainda por cima trazem bebés pelo bico, e isso ninguém quer. Pelo menos se vierem com 11 anos, esses ninguém quer mesmo. Onde estava mesmo? Nos bichos que nos caiem cabeça abaixo como, dizem uns, fossem sinais de um Deus transtornado com tanta porcaria que vê. Não condeno que Ele nos mande cócó e pássaros mortos. Merecemos a praga. É como se Ele nos dissesse: "Achas-te capaz de matar?Pois vamos ver se consegues carregar com as mortes que provocas". Quando está mais zangado, deixa os pássaros, e prefere deixar cair os aviões. 
Esta notícia provocou-me reacções alérgicas. Não quero que me caiam animais mortos em cima da roupa nova e muito menos quando eu estiver na revindicação a favor dos animais! Não quero ser incoerente, já chega quando critico a vizinha "porque tem a galinha melhor que a minha" e a seguir vou ao quintal dela (pode ser a senhora Berlinda) , matar a galinha e assá-la no forno. 
Que estupidez a minha, ninguém faz isto. Sempre fui exagerada .... Não acreditem nesta coisa que inventei agora, de gente capaz de criticar o que a outra tem e a seguir ir lá e ficar com a coisa altamente criticável. Como se a senhora Queriduxa fosse criticar a senhora Berlinda, por conta de uma galinha, e depois fosse à televisão dizer que a galinha era dela. Onde é que eu já vi isto? 
Acho que merecemos que nos caiam pássaros mortos pela cabeça abaixo. Preferia que caíssem potes de lucidez, mas o problema, é que haveria muito cromo que se desviaria dos potes ... mais vale estúpido que lúcido. E toca a apanhar os pássaros que pode ser que guisados ainda se comam. Andam uns a castigar-nos e andam outros a brincar com a cena. Não mandes mais pássaros saudáveis, para ver se eles se riem depois.
  
Notícia em: http://www.ionline.pt/conteudo/140704-nova-chuva-passaros-mortos-na-ilha-reuniao

terça-feira, 2 de agosto de 2011

1º Relato_ quando eles deixaram de dormir

Não é que me traumatize ou me orgulhe. Por vezes tira-me o sono, outras, faz-me sorrir com algumas saudades masoquistas.
Tinha 13 anos quando eles deixaram de dormir. Era uma garota feliz, com preocupações básicas e fulcrais - quem seria o meu primeiro namorado e qual o presente de Natal a pedir nesse ano. Vivia pacatamente, já com o feitio afinado. Sabia tudo sobre tudo, e não se podiam atrever a chamar-me à atenção. Prepotente e segura de mim mesma, mas incrivelmente despreocupada com a vida, que deveria agitar os adultos, não as pré-adolescentes mimadas.
Tinha 13 anos quando eles deixaram de dormir  e perceberam que a excitação de falar mais do que ontem, começava a acalmar. O sono era maior que a vontade de brincar e as dores nas costas, não faziam sentido àquele miúda que fazia desporto desde os 6 anos.
Já não me importava comer, já não me importava ser a principal nas festas escolares. Queria o meu canto recatado e que falassem baixinho, porque tinha muito sono. Nunca falei disso, senão ao meu diário amarelo, mas agora o tempo passou e urge-se que as reflexões me ensinem a crescer.
Tinha 13 anos quando eles deixaram de dormir porque o seu bebé tinha cancro.

Hoje, enquanto o meu afilhado ria e tentava colocar-se de pé

Os olhos mais pequenos são os que maior vêem –
não prejudicam, não enterram verdades - meias,
apenas transtornam aqueles que os fixam.
São lupas de inocência, só daqueles que lá moram,
São espias de indecência,
para quem age por fora. 

Pinto a cara, para te fazer rir

Porque às vezes é preciso pintar a cara, para te chamar a atenção


Dedicado aos meninos e às meninas da APPDA em Coimbra, que me tocaram na alma quando me sorriram. Obrigada meus anjos, por serem exactamente como são.


Olha eu!
Tão bonita que estou,
vestida de amarelo e de rosa e cintilante,
para que te encante,
e me leves, como eu sou.

Olha eu!
Que não sei escrever o meu nome;
Nem sei quem mo deu!
Mas se tentares, eu digo! Eu dou-te o que é meu,
se prometeres que a visita tem um mais,
como nas contas que se some.

Olha eu!
Que caio, para te rires,
que corro e desmaio e bato-lhe a ela,
se me pedires,
que mordo e cuspo sem maldade,
achando que é próprio da idade.

Olha eu!
Que sou frágil e diferente,
Que voo sem asas e sem transporte.
E sei que se não fosses diligente,
Olhavas-me sem ser apenas à sorte.

Olha eu!
Que grito alto, sem razão,
Que te assusto, que te incomodo,
porque quero que me pegues ao colo,
e que percebas a minha intenção.

Olha eu!
Que espero que veles por mim
e me torne, e me tomes, um ser
que seja igual para ti. Igual não!
Mas suficiente –
Assim, já serei gente?

12 de fev 2011
Marine Antunes



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tobias zarolho

Quando era miúda tapava os 100 peluches com mantas, camisolas e saias, para não terem frio durante a noite. Jurava que o Tobias, mesmo com um olho arrancado, sabia que eu deixava os compadres peluches passarem frio. E aquele olho arrancado seria vingado numa noite dessas, pensava eu. O Tobias já faleceu e vive feliz no céu dos peluches, onde o barbie-cabeleireira vive também. Tiveram bébés que saíram loiros como a mãe barbie e zarolhos como o pai Tobias. Infelizmente, os peluches foram substituídos por outros bonecos mais feios, como as bonecas insufláveis. Fazem truques e também têm o olho arrancado, só não digo de onde. E isto dá que pensar: Ontem brincava aos pais e às mães, hoje as crianças estão proibidas de brincarem aos pais e às mães sem o planeamento familiar ao lado. Mundo cruel este o dos meninos de agora. Mais vale brincar com a barbie-cabeleireira que tinha três mudas de roupa e pintava os olhos! Agora a barbie já não representa profissões- vem com o recibo verde na mão. Ainda bem que fui criança há uns anitos, não aguentaria tamanha pressão de ter de saber formatar um computador enquanto a minha mãe me muda as fraldas.

Tobias zarolho descansa em paz.

Dependente de mim

Já não escrevo há tanto tempo – parece que deixei de sentir.
Sinto-me como se tivesse feito batota, a mesma falsa garota,
que cai no chão porque se deixa cair.
Não posso deixar que me atravessem o orgão –
As letras engolidas, decifradas, decoradas,
as mesmas das mesmas que hoje já são moucas,
as malvadas sujeitas que permito que sugam,
as mesmas que já não gosto, mas que não sei outras.
Não posso facilitar despedimentos.
Entre mim e o ser que construo, entre a minha alma
e a própria que falo e mesmo eu que educo.
Porque só dependo de mim mesma –
Sem mãe, nem pai que se responsabilize,
Nem estado, nem entidade que indemnize,
Serei sempre água do suor que emito
e carne do músculo que permito,
o que erroneamente eu fizer.
Caso a caso, relembro os factos,
São comuns, não raros e tantos que até farto –
De saber que ser falhada às vezes sou.
Mas serei sempre eu mesma
A orgulhar-me do que mudou.

Marine Antunes

Quando me apontaste o dedo na rua

Quando me apontaste o dedo na rua,
Não entendeste que me acertaste.
Não é que a minha vida seja tua,
nem que mereças que seja eu a justificar-te.

Mas quando me apontaste o dedo na rua,
a ferida que ainda sangra, rebentou.
E não fui eu, não foi ela que se descoseu,
foi o teu dedo manhoso que a ficcionou e a rompeu.

Quando me apontaste o dedo na rua,
os meus olhos cobriram-se de lágrimas.
Não por ti (que nem te conheço)
Mas porque no momento, não virei a página
e não impus o lugar que eu mereço.

Ai se os gajos tivessem troco!

Vivo perto de Leiria. É verdade, terra de gente boa e de gente mais ou menos, mas sobretudo, uma terra que quase, quase me fez senhora e dona do meu nariz.
Estremeci quando soube: O estádio de Leiria está à venda.
Ora muito bem, vamos por partes. O senhor estádio é como um bibelô. Bonitinho, engraçadinho, olha que coisa gira e muito bem, muito bem - resumindo, não serve para coisa alguma. O bonito disso tudo é que ocupa uma cidade inteira e eu nem quero imaginar o que poderia existir naquele lugar. Digo eu aos turistas: Aqui é o Castelo, lá em baixo o mercado e aqui está este coise, grande, imenso e caro que está tanto de utilidade como a carpete de 20 contos da minha avó que resiste às traças no sótão. Mas o melhor, o melhor é que soube que o coise está à venda! Mesmo ao pé do mercado, onde os vendedores impingem as "Lacostas" e as "Nikas"!  E eu estive mesmo para comprar, mas os doutores não tinham troco de 50 euros e nenhum maluco dá mais de 20 pelo coise...

Olhe, se faz favor, esse lugar está ocupado?

Obviamente que os lugares estão ocupados.
As salas estão cheias, as filas de trânsito estão cheias, as discotecas estão cheias, as pessoas estão cheinhas, as televisões estão cheias (de gente bonita, burra e agora-é-que-vou-ser-conhecida-nem-que-meta-as-mãos-à-goela). Os psiquiatras estão cheios. A internet está cheia de mais do mesmo de gente, como eu, que escreve na ânsia que alguém venha, finja que lê e diga: "Olha a coisa! Afinal existes! não és miragem provocada pelas drogas que tomo ... que giro".
Mas somos bestas espertas nós. Não desistimos de entrar nas salas, de furar a fila, de espreitar para a discoteca para ver se o vemos, de colocar cintas, de fazer aparições raras e absurdas na televisão (Mi culpa), de ir ao psiquiatra só confirmar que não estou maluca.
E acabamos todos por escrever nos perfis das redes sociais, que somos "artistas e escritores", enquanto fazemos cábulas para passar no teste de cultura geral da faculdade. Até tem graça a nossa arte manhosa, não tem?   Só queremos mesmo um espacinho neste mundo de robôs. Já não digo para sermos artistas, mas para sermos ouvidos nem que a outra pessoa não repare que temos sotaque.