sábado, 10 de dezembro de 2011

O amor é: dentes arrancados

O amor.
Não há tema mais batido que este. Dão lhe prioridade absoluta, como se fosse vedeta de todas as festas. Enchem-no de características, definem-no, criticam-no mesmo quando veneram o seu poder. O amor. A maior prisão da sobrevivência - aliás, o que de mais se parece com a morte: afinal ninguém está livre dele.
Dá-me dores na barriga ao falar de amor - não, não são as tais borboletas que crescem no estômago quando Ele passa (Deus me livre imaginar que tenho larvas a crescer dentro de mim), mas dores fortes, naturais,  como se alguém me desse um soco. É que porra, o amor dói. Dói como quando nos arrancam um dente - aquela dor aguda, interminável que sabemos não querer repetir. Até juramos preferir que apodreçam todos os dentes (DA FRENTE!) do que voltar a sentir a dor aguda. O amor assemelha-se a três dentes arrancados, sem anestesia e com a sensação de que o dentista não lavou as mãos. 
Mas voltamos lá. Com medo, a tremer, a hesitar. Lemos dez vezes a placa que diz "Dentista" e confirmamos a morada. Sabemos que vai doer, sabemos que aquele nem será o dentista melhor, mas voltamos lá. Afinal, ninguém vive com dentes podres. E como um dente prestes a arrancar, voltamos a cair na tolice de nos apaixonarmos. E lá está ele: a acenar com a sua pinça mágica, ou piça mágica, como quiserem, e nós caímos outra vez. Sorridentes. Prontinhos a sofrer uma dor aguda. 
Não me falem dele de forma sorridente - não se esqueçam, estamos sem dentes. Falem-me dele com bastante ódio, afinal ele arruína-nos. Faz-nos sentir especiais, únicos, mestrados. Até vestimos aquelas calças que nos ficam tão mal e desfilamos orgulhosos. É a sombra perfeita - cuspam-me na cara e limpem-me os olhos por favor.
E depois o dente sai, as calças ficam, o dentista reforma-se ou prefere arrancar dentes, à paulada, à secretária copa Best, e nós ficamos novamente agarrados à coca: Cromos que Ouviram Conselhos de Apaixonados, para lá está, se apaixonarem.
Enquanto puder fugir do dentista, fugirei. Espero que não me apanhem. Não quero esta dor aguda. Para isso já me chegam as dores menstruais, que também são vermelhas como o amor.

1 comentário:

Diogo disse...

nunca arranquei nenhum dente no dentista. 3 dentes parece-me muito pouco.