segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dependente de mim

Já não escrevo há tanto tempo – parece que deixei de sentir.
Sinto-me como se tivesse feito batota, a mesma falsa garota,
que cai no chão porque se deixa cair.
Não posso deixar que me atravessem o orgão –
As letras engolidas, decifradas, decoradas,
as mesmas das mesmas que hoje já são moucas,
as malvadas sujeitas que permito que sugam,
as mesmas que já não gosto, mas que não sei outras.
Não posso facilitar despedimentos.
Entre mim e o ser que construo, entre a minha alma
e a própria que falo e mesmo eu que educo.
Porque só dependo de mim mesma –
Sem mãe, nem pai que se responsabilize,
Nem estado, nem entidade que indemnize,
Serei sempre água do suor que emito
e carne do músculo que permito,
o que erroneamente eu fizer.
Caso a caso, relembro os factos,
São comuns, não raros e tantos que até farto –
De saber que ser falhada às vezes sou.
Mas serei sempre eu mesma
A orgulhar-me do que mudou.

Marine Antunes

4 comentários:

O preço das uvas disse...

Eu acho fixe que a tua escrita seja frenética como tu. A sério, é sinal que és tu em palavras e isso é importante pra quem te lê. Continua se isso te faz sentir bem.

P.S. Eu sou mesmo uma gaja importante. Primeiríssima a comentar.

Pode repetir o que disse? disse...

és sim! Nem sempre a escrita nos representa, mas no meu caso, é cola e cuspo meu

O preço das uvas disse...

Porra, mas é teu! Esse é o meu ponto.

Miguel Távora disse...

Ah! Cheguei tarde! Já não fui o primeiro... Está muito bonito mesmo :)