quinta-feira, 22 de setembro de 2011

José e Helena

José não precisava de muita coisa. Uma mochila, um par de ténis e água quente, eram os maiores dos seus luxos. Helena precisava de tudo. Tudo lhe fazia falta porque tudo era imprescindível. Tudo era estritamente necessário para se ser feliz. Sobretudo os pormenores. As coisas pequenas eram pérolas de respostas ao humanismo comum. Ele sem coisas, ela cheia de coisas, juntos poderiam atingir o equilíbrio. 
Helena pediu a José que lhe desse uma das suas três coisas. Se ele não precisava de muito, podia ceder-lhe um dos seus tesouros. Ele mirou a mochila já gasta, gabou os ténis, e usufruiu da água quente. Depois, a custo, cedeu-lhe os ténis e aprendeu a gostar do chão frio. Ela ficou feliz, por ter mais uma coisa indispensável, e ele, apesar de mais vazio, sentiu-se feliz por te-la feito feliz. Ambos gostaram da sensação, e por isso quiseram mais.  Ela elogiou-lhe a mochila e invejou a água quente e ele, já sem custo cedeu em primeiro um e depois outro tesouro. E ficou sem nada. 
Estavam extasiados com tamanha felicidade de concretização. Ele sentiu que ela o amaria para toda a vida, porque lhe tinha dado tudo.
Ela ficou corada, aproximou-se dele e quase o abraçou. Depois, mais envergonhada, disse-lhe:
"Deste-me tudo, ficaste sem nada, mas infelizmente não te posso agradecer, porque tenho os braços, as mãos, o corpo demasiado cheio para te conseguir abraçar".

Ele sentiu-se derrotado e, num instinto de raiva, retirou-lhe tudo o que tinha dado! Como podia ter sido ela tão ingrata?
Ela baixou a cabeça, chorou baixinho e em soluços murmurou lamentando - "Mas podias ter beijado a minha boca, que em nada segura e eu teria largado tudo, voluntariamente, por ti".

3 comentários:

Diogo disse...

"Mas podias ter beijado a minha boca, que em nada segura e eu teria largado tudo, voluntariamente, por ti".

brutalll

Pode repetir o que disse? disse...

Es o meu unico seguidor por isso vou te tratar com carinho!

Diogo disse...

mesmo que não fosse!!