quinta-feira, 8 de setembro de 2011



Dói tanto perder o que é nosso, mas muito mais quando descobrimos que é emprestado. E não falo de objectos, mas de pessoas que não voltam.



Ele chamava-se José, ela chamava-se Helena. Não se conheciam, nunca se tinham visto e nem sequer eram nascidos. Mas já sabiam que se amavam. Não em jeito de tórrido amor de cinema, onde a alma de um é cravada em alma de outro, mas em jeito de drama real, em que a alma de um sobrevive à conta da alma de outro, mas o condenado não sabe disso.

Ele chamava-se José e disso sabia. Era tão comum, tão normal, tão simples com a sua existência, que se lhe perguntassem o motivo de querer estar vivo, ele encolheria os ombros e diria "Não sei". Na verdade, não sabia grande coisa que implicasse mais do que era suposto. Era inteligente, mas não gostava de sentir grandes emoções. Elas atormentavam-no por serem reais.

Ela chamava-se Helena. Era tão especial, tão única, tão incomum, tão rara com a sua existência, que se lhe perguntassem o motivo de querer estar viva, ela saltaria para o colo da pessoa, beija-lo-ia-a, e diria aos gritos: para dar e receber amor! Ela era composta por uma magia branca, que a tornava débil. Era tão débil, que quase se partia só de lhe tocarem. Tão frágil, que enfraquecia se não sentisse emoções.

Bastou um olhar. Um olhar que o enfraqueceu a ele e a enforteceu a ela, longe de todas as expectativas, para perceberem que dependiam um do outro. Ele, do seu jeito meigo de amar a vida, ela, do seu lado racional de sobreviver. Ela pediu-lhe que a envolvesse, que tomasse conta, que permitisse. Ele, entusiasmou-se e decidiu levá-la num passeio real. Ela, pediu mais segurança, mais verdade na forma como ele lhe pegava, ele recuou. Teve medo de a partir, de não conseguir tocar-lhe com leveza, de a tornar impura. Ela exaltou-se com o medo, ele pediu compreensão.

Recuaram. A frieza de um não suportaria a leveza do outro. Mas era tarde para separar os corpos. Tarde para anunciar separações. Tarde para conceber vida em que um ou outro não existisse.

Separaram-se. Ela tornou-se mais fraca, mais pequena, mais morta. Ele tornou-se mais frio, mais incapaz, mais insensato. Ele diz que não precisa dela, porque o gelo do seu copo não se há-de derreter, ela diz que não precisa dele, porque a flor do seu colo não há-de envelhecer. 

Mas ele chora de noite, ela chora de noite, e a noite chora todos os dias, porque duas estrelas se separaram vivas e foram tentar brilhar em lugar opostos. O problema, é que a luz delas é só um reflexo de uma luz maior - do amor que os uniu.

1 comentário:

Diogo disse...

E quando isto só acontece para um dos lados?