Quero é escrever poesia antes que me
cortem os braços.
Já me tiraram os maços, os amaços, o
baço, a alegria,
já me acrescentaram tempo ao tempo que
me tiraram
e já me deram um momento, pr´a despedida
derradeira.
Quero adormecer sem barulhos de lá
ecoados,
e acordar sem os sonhos transpirados
e os braços inchados, chupados pela
enfermeira.
Quero voltar-me em lençóis meus e
coloridos,
sem serem iguais aos dos outros –
feios e feridos, sem qualquer alma a
mais.
Quero que desapareça a cortina que nos
separa:
Quero um muro, duro, intransportável,
consistente.
Não quero mistura de gente com gente,
quero apenas um quarto sem sobressalto,
sem medo de ao acordar, o ver vazio –
e mais uma cama por ocupar.
Mais um dia de doente que sabe a
doentio.
Quero que não falem comigo,
mas que me visitem sempre.
Quero ser calmo e inteligente na mágoa
que me calhou,
Mas não ser diligente a aceitar o que me
acamou.
Quero abraços grandes, depois e antes
de sair daqui. Não quero mais sorrisos
forçados,
nem coros ensaiados com o dizer
sensacional.
Quero apenas sabores, comidas com cores
E tudo para que acorde e veja um dia
normal.
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